Sempre gostei de receber e escrever cartas. Daquelas que chegam pela manhã com envelope, onde está escrito, o remetente, o destinatário e têm selo e tudo! Ah, não sabem do que falo? É natural, hoje tirando as cartas que vejo os meninos escrever ao Pai Natal, que segundo consta é o único que continua a receber montes delas, que se saiba não porque se recuse a aderir às novas tecnologias, mas porque os meninos acreditam, que só escrevendo uma carta os seus pedidos serão atendidos. Hoje não se escrevem cartas. Cartas, como as que guardei e reencontrei hoje na gaveta de um armário. A precisão da caligrafia, o estilo pessoal, o tempo e a dedicação com que eram escritas, fazem claramente, parte do passado. Hoje quando muito recebemos, cartas dos seguros, da companhia da electricidade, da água… Cartas impessoais e maquinais. E as outras? As de amor, as ridículas, as que davam conta de estados de alma? As que eram escritas sem corrector ortográfico, consultando apenas o velho dicionário em caso de dúvida? Todos sabemos como deixamos que fossem substituídas, por formas de comunicação que não deixam rasto, mensagens curtas, rápidas, etéreas. Como era bom ver chegar o carteiro, com a carta esperada, ou melhor ainda com uma inesperada!
Dos dias e noites longas. Onde há tempo para ter tempo.
Da casa sempre cheia de gente. Tal e qual como na infância.
São, os primos, as manas, os sobrinhos, os filhos, os amigos, os amigos dos filhos, os amigos dos amigos…Gente e mais gente, que dá vida à casa que durante o resto do ano está quase sempre vazia!
No Verão, a casa ganha vida, como no tempo dos avós. E ninguém se atreve a procurar destino de férias sem passar por cá!
Pedro, o meu sobrinho de quatro anos, fez-me há dias uma pergunta curiosa;
-Tia, o que gostas mais no Verão é da casa da Avó?
Fiquei espantada! Tão bem o pequeno lia minha alma!
Para falar verdade, não sei do que gosto mais neste lugar. Da casa? Das memórias de uma infância e adolescência privilegiadas? Da paz que me invade sempre que aqui estou? Do rio, junto ao qual cresci e que um dia me levou até ao mar? Das árvores, que subi na esperança de conseguir tocar o céu? De olhar o sol a levantar-se por entre as águas do rio, ou a mergulhar nelas ao entardecer? De olhar o céu infinito, ponteado de estrelas? De escutar uma cantata para grilos em noite de lua cheia?
Adoro tudo isto! Mas do que gosto mesmo, é de mergulhar na relva!
O cheirinho a verde misturado com o perfume das várias ervas e flores invade o ar, fixando-se de tal forma na alma, que sentimos como que um desejo irresistível de ficar ali a adorar a natureza!
Dia de luz, festa de sol E o barquinho a deslizar No macio azul do mar Tudo é verão, o amor se faz No barquinho pelo mar Que desliza sem parar Sem intenção, nossa canção Vai saindo desse mar E o sol Beija o barco e luz Dias tão azuis
Volta do mar, desmaia o sol E o barquinho a deslizar E a vontade de cantar Céu tão azul, ilhas do sul E o barquinho, coração Deslizando na canção Tudo isso é paz Tudo isso traz Uma calma de verão E então O barquinho vai E a tardinha cai
“Sabemos todos já, amigos, que há vida e morte. Também isso temos de aprender.
Não fiquem tristes por isso. Vejam como as flores nascem quase transparentes da terra, como as podemos olhar à luz do Sol, e morrem, para de novo nascerem.”
Matilde Rosa Araújo in O Sol e o Menino dos Pés Frios
Como na canção de Jobim...da praia, Teresa sou.
Mulher,Mãe,Educadora de Infância,de criança em campo lavrado,de adolescência em montanha subida, de adulta em cidade emparedada.
Marítima d'alma, quer em vento que se "alevanta", quer em onda mansa que se espraia.