terça-feira, 28 de junho de 2011

O sol e o cavalo que vivia na estante da biblioteca


Era uma vez um cavalo…

Ou melhor, era uma vez uma égua chamada “Nahora” que vivia numa das estantes da biblioteca do meu Avô. Sim eu sei, as éguas e os cavalos não vivem dentro de casa e muito menos em cima de estantes carregadas de livros, mas Nahora era uma égua de cristal muito transparente, polido como diria a tia Zélia que a trouxera duma das suas viagens para oferecer ao Avô.

Afinal a história não tem nada de especial! Uma égua de cristal no meio de livros, um simples objecto…

Está-se mesmo a ver, por artes mágicas ou outras Nahora vai saltar da estante, quem sabe ganhar asas… e eu pergunto onde é que já li isto?!

Nesta altura da história estou a pensar como deve ser difícil para quem escreve histórias a sério inventar verdades que convençam as pessoas a continuar a ler, sim porque ninguém vai perder tempo a ler uma história que já foi escrita.

Mas como eu não escrevo histórias a sério só porque me apetece não estou preocupada se ninguém a ler, além do mais esta é só uma história minha se ninguém a ler ela continua minha, engraçado que se por acaso alguém ficar curioso e resolver lê-la ela continua a ser minha, ou não? Talvez seja minha, tua, de quem a apanhar, quer dizer de quem a ler…

Ah, esqueci-me de dizer que ao final da tarde quando o sol entrava pela janela da biblioteca para se despedir, Nahora deixava de ser transparente para ganhar todas as cores conhecidas e desconhecidas, principalmente as desconhecidas.

E foi esta história pequena que lembrei hoje enquanto estava com os meninos no Clube Hípico de Campo, Valongo.

Eu sei, não é uma grande história, mas quem decide afinal o tamanho das nossas histórias?!


quarta-feira, 22 de junho de 2011

Ciência Poesia e muitos Amigos


O melhor dos projectos são as pessoas, aquelas que já conhecemos e temos como amigas e as com quem nos vamos cruzando e nos tornam sempre melhores.

Na semana da ciência e Poesia tivemos a ajuda de muitos amigos, alguns deles mesmo muito especiais, como os nossos amigos da escola do Facho, juntos partilhamos emoções, saberes e provamos que lado a lado, Poesia e a Ciência são muito mais divertidas e interessantes.



terça-feira, 21 de junho de 2011

O chapéuzinho

(chapéu feito pelos meninos)


A menina comprou um chapéu

E pô-lo devagarinho:

Nele nasceram papoilas,

Dois pássaros fizeram ninho.

Chapéu de palha de trigo

Que a foice um dia cortou:

Na cabeça da menina

O trigo ressuscitou.

Depois tirou o chapéu,

Tirou-o devagarinho,

Não vão murchar as papoilas

Não se vá espantar o ninho.

E, chapéuzinho na mão,

De cabeça levantada,

A menina olhou o sol

Como a dizer-lhe: Obrigada!


Matilde Rosa Araújo


domingo, 19 de junho de 2011

Há Canções Que São Como Livros


Tenho uma imensa dificuldade em lidar com imitações e a mediocridade irrita-me de sobremaneira. Detesto os que tentam vender-me o mundo a prestações, o deles claro!

Não gosto de gente com pré conceitos e cheia de preconceitos, olhares formatados e obtusos…

Porque o que o meu olhar vê pode ser só meu e ninguém tem nada com isso.

Mas às vezes, descobrimos olhares em outros, que vá-se lá saber porquê sentimos como nossos e que apetece partilhar.

Como o olhar desta canção de Amélia Muge.

Dona de uma voz diferente e por isso impossível de imitar. Voz que não se adapta aos formatos em vigência. Aos formatos do mau gosto, do berro cantante, do poema sem nexo e conteúdo, desses que vão passando insistentemente e diariamente nas nossas rádios.

Dela, uma canção que bem podia ser um livro. Porque há canções em que gostamos de ler como livros e onde descobrimos olhares que são tão nossos!

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O relatório que ninguém vai ler


Sempre que me vêem a escrever os meninos perguntam se estou a escrever um “ralatório”.

E nunca a palavra inventada foi tão bem empregue, é que os ditos cujos são efectivamente uma ralação e a parte muitas vezes dispensável da profissão. Às vezes o sistema pede um relatório do relatório, para nos levar à certa muda-lhe o nome e chama-lhe avaliação do trabalho realizado, e eis que repetimos várias vezes por outras palavras a mesma cantilena.

E está tudo formatado, claro!

De quando em vez, alguém se lembra de fazer umas alterações, afinal fica sempre bem complicar mais um pouco, dá uma certa credibilidade e umas palavras mais eruditas ainda que fora de qualquer contexto educativo, marcam sempre a diferença!

Meus amigos, não há como escapar é que os dossiês ficam tão compostinhos e bonitinhos nas prateleiras de qualquer Direcção Executiva que se preze.

Sempre que tenho de escrever um destes relatórios, escrevo outro que nunca ninguém lê e quando hoje tive de avaliar a evolução ou não dos meus meninos, estive tentada a contar o que aconteceu na realidade!

Tudo aquilo que os meninos me ensinaram e a forma espantosa como continuam a fazer-me crescer…

Longe vão os dias em que desconfiados e orquestrando por vezes em uníssono umas sinfonias para choro e grito, nos fomos tornando amigos, havia até os mais destemidos que por vezes exercitavam os meus dotes de corredora de fundo, quando sem aviso abriam a porta da sala e resolviam procurar os pais!

Eram tão pequeninos, os mais tímidos pareciam a minha sombra.

Todos esperavam a minha ajuda para procurar o lanche, tirar o casaco, apertar e desapertar, enfim, para fazer as coisas que a nós adultos nos parecem tão fáceis mas que foram num tempo longe grandes conquistas.

Eu era a “puxôra Teza Maía”, o Afonso gostava de “Firafas”, (girafas), e às vezes no muro da escola aparecia um “Fafanhoco”, (gafanhoto) …

Hoje os meninos pronunciam correctamente as palavras, sabem palavras novas, mas o importante é que gostam de inventar palavras, de contar histórias, de ouvir histórias, sabem escolher nos livros da biblioteca as suas histórias preferidas e sabem o nome dos que escrevem as suas histórias de eleição.

Decidem sozinhos o que vão fazer, como vão fazer, o que precisam o que é dispensável e sabem que têm de fazer sempre muitas perguntas, e que quando parece que estamos todos de acordo há sempre alguém que viu mais, diferente, e por isso uma coisa nunca é mas está sempre a ser.

Inventaram cores, e descobriram o quão bom é quando entornamos as nossas cores e as misturamos todos juntos…

Pintaram a manta, o infinito…

Desenharam-me sorrisos. Com eles aprendi numa manhã de Inverno a fazer rendinhas de gelo, fiquei a saber, que os peixes do aquário da sala namoram e que gostam da música que ouvimos, pois põem as orelhas fora de água para ouvir melhor!

Que o mar se pode transportar numa galocha! Que podemos inundar a sala de azul de mar de céu, de amar!

Que podemos navegar sem barco, sem mapas, sem margens e sempre que decidirmos, podemos ficar à margem…

Confesso, obriguei-os a serem felizes e obriguei-me a sê-lo!

Acho que a isso se chama CRESCER! E acho que escrevi quase tudo do que não pode constar de um “ralatório”!