segunda-feira, 30 de maio de 2011

“Sem Barco me fiz ao Mar”



Amei quando quis amar

quando não quis, desamei

num barco me fiz ao mar

ele ficou, eu voltei!


Chegado que fui ao porto

e a ponto de atracar

não sei se vivo se morto

deixei o barco no mar


A praia nua só tinha

o céu e a lisa areia

o barco volta, não volta

na branca onda volteia


Ele ficou eu voltei

sem barco me fiz ao mar

quando não quis desamei

amei quando quis amar

Nuno Higino

quarta-feira, 25 de maio de 2011

TERRIVELMENTE PEQUENOS...



Terrivelmente Pequenos

Oiço com frequência colegas a queixar-se que os miúdos são terríveis, que não conseguem estar quietos, que são mal-educados, que não cumprem as regras, etc. …

Talvez quisessem os meninos com um botão incorporado para ligar e desligar a seu belo prazer! Isso dar-lhes ia o direito de ser terrivelmente maçadores, terrivelmente, ignorantes, terrivelmente ditadores e outros “terrivelmentes”, cuja lista não teria fim, sem serem contestados e sobretudo, para usar a palavra de que tanto gostam, desautorizados!

Com frequência vejo nas paredes das salas de aula, quadros com uma série de regras de conduta que lamentavelmente só são para aluno cumprir!

Na maioria dos quadros a primeira regra é:

- Não gritar na sala! Parece-me bem, gritar danifica as cordas vocais, faz subir a tensão arterial, provoca graves lesões no sistema nervoso central e faz ruído, muito ruído, que contribuí inevitavelmente para um processo acelerado de surdez!

Outra regra interessante é; não falar alto! Claro que falar alto é sempre muito relativo, mas dentro da relatividade convém ser explícito o suficiente para não induzir ninguém em erro, pois numa dessas salas onde esta regra está escrita já ouvi o professor pedir ao aluno que falasse mais alto para se fazer ouvir!

Na maioria dos casos as regras são tantas e tão ridículas que certamente dariam um tratado!

E não pensem os poucos que se dão ao trabalho de me ler que sou a favor da ausência parcial ou total de regras! Nada disso! Costumo até dizer, que na minha sala há democracia, mas que não permito infanto-cracias com maioria absoluta! O que devemos ou não fazer dentro da sala é decidido por todos, fica claro que quem tem direitos tem deveres.

Dentro da sala, podemos gritar de alegria e falar bem alto que gostamos uns dos outros, é obrigatório ser gentil, ajudar quem precisa, mesmo que seja ajudar um colega a comer o lanche, porque às vezes estamos sem apetite e podemos partilhá-lo com quem tem mais fome. É também obrigatório distribuir sorrisos várias vezes ao dia, fazer perguntas sobre tudo e mais alguma coisa.

Os meninos conhecem os limites que combinamos e sabem que desde que esses limites não limitem nem prejudiquem ninguém, podem e devem de quando em vez ser sem limite e levados ao limite.

Mesmo quando levados ao limite os limites são iguais para todos, independentemente de ser criança ou adulto. Na minha (nossa) sala, não quero quadros de proibição, sejam com letras, bonecos ou bolas, as regras existem e são sempre flexíveis tendo em conta a felicidade de todos a sensibilidade e o bom senso.

Eu sei que há meninos difíceis, mas provavelmente sem eles nunca questionaríamos a nossa prática pedagógica, nunca os nossos limites seriam testados, nunca perceberíamos que somos capazes de ultrapassar todos os limites, mesmo os nossos…

sexta-feira, 20 de maio de 2011

"Meninos Coração de Pássaro"


Já aqui disse sobre os fascínios da minha profissão e não me canso de dizer. É que no jardim-de-infância não há dias diários, os meninos têm o poder de inventar inesperados a cada momento, fazendo perguntas, observações raras e tecendo sobre as mesmas conclusões muito próprias.

Os inesperados são quase sempre a melhor parte do dia. Adoro quando o que planificamos no dia anterior é imediatamente (des) planificado, só porque surgiu algo mais interessante ou que simplesmente nos faz mais felizes.

Como hoje pela tarde. Acabávamos de entrar na sala depois do almoço quando um dos meninos gritou:

-Professora! Está ali um passarinho!

Pela porta ainda aberta da sala, vi a professora Xana e nossa Joana tentando apanhar um pardalinho que voava pelo corredor. Assustado, procurava a saída e na ausência de portas ou janelas abertas atirava-se insistentemente contra os vidros, até que ao ver a porta da sala aberta entrou e foi pousar imaginem no teclado do computador! Parou para descansar do medo, segundo os meninos. Com muito cuidado para não o magoar conseguimos apanhá-lo. Era mesmo pequenino e” tremia de susto”; segundo o Edgar.

Todos chegaram rapidamente à conclusão que a casa do passarinho era nas árvores frente à janela da nossa sala e sem mais demoras saímos para o recreio para o devolver à família, pois a mãe dele devia estar já muito aflita, como muito bem referiu a Bruna.

Mal abri a mão o pequeno pássaro voou com quantas asas tinha, mas não tardou a pousar na rede que separa o recreio da árvore sua casa como que para agradecer…

Claro que ninguém quis voltar para a sala sem descobrir onde era a casa do pardalinho…

E não é que a descobrimos!

Eu fui quem a viu melhor, subi à árvore. Os meninos queriam ver mais de perto, mas a árvore não oferecia segurança, com muita pena minha e deles. Pensei como seria fantástico vê-los trepar pela árvore…

Talvez num outro dia, numa outra árvore…

É que já algum tempo que quero trabalhar um projecto que irá chamar-se;

As vantagens de subir às árvores!

E o nosso amigo pássaro? Olhava-nos baloiçando num fio de electricidade. E talvez pensasse, que bom é ter meninos felizes e com “coração de pássaro”!



terça-feira, 17 de maio de 2011

Plantas do Nosso Muro

Há um ano atrás a convite do Centro de Ciência Viva de Vila do Conde, eu e minha muito amiga Umbelina estávamos completamente embrenhadas e deliciadas, num projecto que tendo por base o conto de Sophia de Mello Breyner Andresen, A menina do Mar, levou meninos, comunidade e a nós educadoras a conhecer a biodiversidade dos ecossistemas marinhos.

Para além das descobertas e do gozo que o projecto nos deu, este valeu-nos ainda um primeiro prémio a nível nacional. Mas acreditem, o prémio foi de tudo o menos importante comparado com o que aprendemos e nos divertimos.

No final do ano lectivo com a minha mudança de escola o projecto teria de terminar para mim, afinal a minha actual escola fica na serra de Santa Justa, o mar azul ficaria não muito longe é certo, mas agora o mar dos meus dias era bem verde!

Confesso, levei algum tempo a habituar-me à minha nova casinha e mesmo ao verde circundante, mas tinha prometido a mim mesma que inventaria uma forma de continuar no projecto e contagiar os meninos, porque sem eles perderia todo o interesse e graça.

Começamos por aproveitar as mais-valias da tecnologia. Os meninos de Vila Chã e Valongo conheceram-se através de vídeo-conferência, fomos trocando interesses e mimos, trocas que acontecem sempre á sexta-feira.

Trabalhei o conto da Menina do mar e se bem se lembram todos os que o leram, há um dia em que a Menina do mar visita a terra dos homens dentro de um balde, pelas mãos do seu amigo e é nessa altura que vem a Valongo conhecer o nosso ecossistema.

Apesar das devidas diferenças e após a nossa visita à praia, descobrimos nos nossos passeios e com os olhos postos no nosso muro, que existem plantas aqui na serra muito parecidas com as da praia. De algumas até já sabemos o nome, graças ao guia de campo oferecido pela Rosário, (Bióloga coordenadora do projecto do Centro de Ciência viva em Lisboa). Aqui no Jardim da Estação, esperamos ansiosos os nossos amigos da praia para a semana da Ciência e Poesia. E devo dizer que pela parte que me toca, este projecto tem muitos mares para navegar….

Neste pequeno vídeo estão algumas das plantas do nosso ecossistema para que possam conhecê-las também! E já agora, o endereço do blogue que construímos para o projecto. Se quiserem saber mais sobre os mare que nos habitam.

http://beijinhosdomar.blogspot.com/



terça-feira, 10 de maio de 2011

Como quem encosta um búzio ao ouvido


Eu sempre ouvira dizer que os búzios ecoam o som ressoante e longínquo do mar, mas hoje quando encostei um búzio ao ouvido não foi o som do mar azul e imenso que ouvi. O som era do mar sim, mas do mar de mim. Era como se um vento de saudade tivesse soltado a memória dos lugares das palavras dos afectos…

Sem saber como, senti-me transportada a um tempo longe, o tempo em que pela primeira vez cheguei a uma escola por minha conta e risco!

Foi em Cambres, uma aldeia do concelho de Lamego.

A escola funcionava numa das salas do primeiro andar de um velho palacete, mas segundo o presidente da junta de freguesia que me esperava no portão, a casa era toda minha teria só de ter cuidado pois algumas das salas tinham o soalho em mau estado.

Confesso que me achei uma rapariga cheia de sorte, afinal quantos docentes podem orgulhar-se da sua primeira escola ser um palácio, ainda que meio arruinado é certo, mas um palácio é um palácio…

- Bom dia menina, procura alguém?

A voz que me impediu de começar a esticar os sonhos vinha do cimo das escadas. Era de uma Senhora com ar meigo e doce e que tinha idade para ser minha Avó. Disse chamar-se Albina e quando lhe disse que era a professora, pespegou-me dois beijos ao mesmo tempo que dizia:

- É tão novinha, valha-me Deus!

E era mesmo! Eu só tinha vinte e um anos!

Dona Albina indicou-me o caminho. Do enorme hall onde me encontrava, podia ver um corredor a perder de vista com salas de ambos os lados, todas estavam pintadas com cores diferentes, à medida que avançava no corredor os meus olhos iam sendo pintados como que pelas cores do arco-íris, ao fundo a escada em caracol era a porta para o céu, (assim lhe chamamos mais tarde, eu e os meninos, pois a clarabóia gigantesca dava-nos uma vista única e privilegiada de Azul Celeste!), vizinha da porta do céu era a sala onde encontraria aqueles que viriam a ser os meus primeiros companheiros de sonhos e aventuras.

A sala não era uma sala, mas antes um enorme salão pintado de azul claro com enormes janelas que chegavam ao tecto e davam para um terraço, todo ele cheio de estátuas de anjos e vasos enfeitados de mais ervas que plantas. Dentro da sala, ao lado da lareira, havia uma armadura, era o nosso guarda de ferro, é que com os móveis da escola, conviviam os antigos móveis da casa.

Esqueci-me de dizer que das enormes janelas da sala, pendiam reposteiros de veludo azul-escuro, e que neles estavam pendurados os muitos meninos que iriam ser os meus.

Dona Albina pedia que se sentassem, mas os pequenos divertidos não a ouviam, muito menos iriam ouvir-me a mim, pensei, ainda nem sequer me tinha apresentado e Dona Albina não parava de repetir que eu não parecia professora…

As tentativas da pobre senhora para conseguir a atenção do grupo não estavam a resultar, foi então que tomei lanço e me juntei aos pequenos pendurando-me no espaço de cortinado livre.

Hoje talvez não arriscasse a proeza, só por correr o risco de levar com o cortinado em cima, mas na altura não só consegui a atenção dos meninos, como a hora de baloiçar nos cortinados se tornou numa hora, absolutamente obrigatória na rotina de sala de aula.

Talvez Dona Albina tivesse pensado na altura que lhe tinha tocado na rifa, uma professora muito maluquinha, mas as ondas de riso que vi no seu rosto deixavam antever que iríamos ser grandes amigas.

Posso dizer que Dona Albina se revelou uma grande companheira de aventuras, descobri que tinha mais sonhos do que eu, é que segundo ela, os sonhos têm de aumentar com a idade.

No dia que tive de despedir-me de Dona Albina, esta presenteou-me com um pequeno saco de pano azul, vazio, disse-me que era para eu ir guardando os sonhos mais importantes, para que nunca me faltassem, porque há um dia ou outro em que estamos cansados de sonhar e precisamos de recuperar forças…

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Amor (Muito Meu)

Há amores que são muito nossos. E os maiores amores são talvez os que o tempo nos guarda e com que nos surpreende de quando em vez. Os maiores amores não se explicam, os maiores amores são até muito difíceis de entender, porque são simples. E as coisas simples escapam ao entendimento porque recusam definições complexas.” O amor é uma cor que dá na vida”, mas jamais alguém definiu o amor. Do amor, só sabemos que precisamos dele, como pão para a boca, embora muitas vezes não saibamos como se diz.

Mas vale a pena tentar. Porque há amores que sabemos para sempre, apesar de nos terem dito já que para sempre é demasiado tempo. Como o tempo desta canção sem tempo, mas que depois de a ouvir com tempo, ficamos a amar para sempre. Do autor cantor, direi é um amor meu de perdição. Da canção, que não conheço nenhuma de amor mais bela. E que quero um amor assim. Muito meu.



Amor (Muito Meu)

Como posso dizer-te, para que me fosse simples,

para que te fosse verdade, que de vez em quando

me sei tão perto de ti.

Sim, canto e sei-te perto de mim.

Sim, ouves-me e penso que nunca me atrevi a dizer-te sequer

o quanto devo agradecer-te, por todo este tempo que levo amando-te.

Pelo caminho que fizemos juntos,

com alegria, com tristeza, mas juntos.

Houve momentos em que duvidei das minhas palavras,

mas tu deste sempre luta.

Por tudo isto e pelo que não digo,

Quero agradecer-te por todo o tempo que levo amando-te.

Amo-te sim…

Talvez timidamente, talvez sem saber amar-te.

Amo-te e tenho ciúmes e valho muito pouco se me negas a tua ternura.

Amo-te e sou feliz, quando me contagias com a tua força.

Passarão os anos e talvez tenha de dizer-te adeus, pergunto-me como aceitarei que assim seja,

se saberei acostumar-me à tua ausência.

Mas isso é outra história.

Agora só quero agradecer-te o tempo que levo amando-te.

Amo-te sim…

(Tradução Livre, Minha)