domingo, 27 de fevereiro de 2011

Embrulhada na Maresia

Se a vissem assim tão quieta a mãe e a Ana diriam que estava doente, mas não, hoje decidira simplesmente olhar o mar da janela. Apesar do sol, o vento forte e o mar furioso não convidavam a passeios pela praia, até as gaivotas tinham voado para longe, o mar era esta tarde o dono incondicional da praia e ela ficaria ali da janela a ouvi-lo como fazia em tantas outras ocasiões. Não que não lhe apetecesse embrulhar-se de vento e sentir a espuma das ondas bater-lhe na cara, mas sabia que quando o mar toma conta da praia o mais prudente é ficar longe. Talvez amanhã o mar dê tréguas à praia. Se assim for a praia estará cheia de pequenos tesouros, conchas raras de mil cores e feitios, estrelas-do-mar que só dão à costa depois das tempestades, pedrinhas de tantas cores e tão polidas que nelas reflecte o sol as cores do arco-íris. Talvez pudesse com as algas fazer um xailinho para aconchegar os ombros e depois deitar-se na areia e ficar ali embrulhada na maresia.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Romancinho Verde


Veio primeiro uma menina

Que lindo nome ela tinha!

Chamava-se ela Maria

Era bela e pequenina!

Veio primeiro uma menina

Veio descendo até à praia,

Tinha uma saia de espuma

Era branca a sua saia.

Veio primeiro uma menina

Cor de cravo o corpetinho,

Veio descendo até à praia

A andar devagarinho.

Veio primeiro uma menina

Veio descendo até ao mar,

Pés descalços sobre a areia

Levezinho o seu pisar.

E veio depois um rapaz

Que Manuel se chamava,

Veio descendo até à praia

Onde Maria já estava.

E veio depois um rapaz

De calças de cor dos montes,

Sua camisa tão branca

Lembrava água das fontes.

E veio depois um rapaz

Com modos de namorado,

E disse manso à menina:

-É tão linda a cor do cravo!

E a menina sorrindo

Parecia uma pomba a voar:

- Ó Rapaz da minha terra

É tão lindo o teu falar!

E o rapaz também sorriu

Sorriu, estendeu-lhe a mão,

E disse manso à menina:

Tu dás-me o teu coração?

E a menina abriu os braços

Para o rapaz abraçar:

Cor de cravo e água branca

Em frente do verde mar.


Matilde Rosa Araújo

domingo, 20 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Uma história de mar com asas



(Joan Miró)

Era uma praia. Pequena, com mar, gaivotas, areia, conchinhas na beirada… Até aqui a praia parecia não ter nada de especial, afinal todas as praias que conheço são assim. Mas esta garanto é a praia mais especial que conheço, vejo-a da minha varanda e sei tudo o que lá se passa. Bom, quase tudo…

Na minha praia, já sei, a praia não é só minha, mas eu gosto de chamá-la assim. Pensando bem, a varanda virada para a praia também não é só minha, mas talvez ela seja mais minha porque passo lá tempos infinitos a descobrir coisas nas coisas. É uma mania minha, e nisto de manias cada um tem as suas.

E foi da minha varanda que dá para a praia que fiquei a saber da história de uma gaivota e de um menino.

A gaivota vivia na praia. O menino vivia longe daquela praia, mas vá-se lá saber porquê um dia veio ver o mar e gostou tanto da praia que sempre que podia voltava. Já sei, o mar e a praia são iguais em todos os sítios do planeta, mas o menino também gostava mais daquele mar, do meu.

Um dia, estava o menino deitado na areia a ouvir o mar, quando lhe cai um pauzinho de madeira mesmo em cima do nariz! O menino levantou – se e deu de caras com o bico de uma gaivota. Nada assustado olhou-a bem, era uma gaivota muito branca com listinhas castanhas nas asas. Sem saber muito bem porquê o menino gostou da gaivota e a gaivota achou o menino tão especial que não foi nada difícil ficarem amigos. Eu não sei se as gaivotas falam a linguagem dos humanos, mas sei que há humanos que entendem as gaivotas. E eu juro que os ouvia a conversar e a rir, pareciam tão felizes! Contavam histórias um ao outro, voavam juntos, outras vezes ficavam ali a flutuar no imenso azul do mar ou a erguer sonhos na areia…

Depois o menino regressava à terra dos homens. Quando ele partia a gaivota ficava na areia sonhando-o e desejando que regressasse rápido.

E quando o menino voltava de novo à praia o coraçãozinho da gaivota ficava tão feliz e tremia tanto que ela nem conseguia bater as asas direito.

O menino não vem à praia há algum tempo. Como sei? Vejo a gaivota sozinha na praia. Há dias até lhe vi nos olhos uma lagrimazinha de saudade, mas sei que vai esperar pelo menino mesmo que ele já não venha.