terça-feira, 20 de maio de 2014

HÁ UM GATO NO POEMA...





Há um gato pendurado no poema.

Um gato

a quem a chuva veio embalar o sono…

Quando a chuva parar,

as borboletas voltarão ao nariz do gato

para lhe emprestar as asas

e o gato há-de voar…


Há um gato no poema

que deixou o sofá vazio…

sábado, 17 de maio de 2014

ELEGIAZINHA





Elegiazinha

Gatos não morrem de verdade:
eles apenas se reintegram
no ronronar da eternidade.

Gatos jamais morrem de fato:
suas almas saem de fininho
atrás de alguma alma de rato.

Gatos não morrem: sua fictícia
morte não passa de uma forma
mais refinada de preguiça.

Gatos não morrem: rumo a um nível
mais alto é que eles, galho a galho,
sobem numa árvore invisível.

Gatos não morrem: mais preciso
— se somem — é dizer que foram
rasgar sofás no paraíso

e dormirão lá, depois do ônus
de sete bem vividas vidas,
seus sete merecidos sonos.



                                                          ASCHER, Nelson

quarta-feira, 7 de maio de 2014

CANÇÃO PARA A MINHA MÃE


     Desenhos dos meninos da sala dos 5 anos


Le linge de nos mères



Le linge de nos mères
Sent bon dans les armoires
La lavande et le grand air,
C'est beau juste de les voir...

Le linge de ma mère
Est plus blanc plus blanc que blanc
Même quand nous étions enfants,
Elle en faisait son affaire.

Et sous nos ventres ronds sera-t-on les filles de nos mères?
Qui menaient tout de front de manière exemplaire...

Dans les maisons de nos mères,
C'est classé irréprochable,
On boit dans de jolis verres,
Y'a des bouquets sur les tables...

Dans les jardins de nos mères
Y'a des fleurs qui dégoulinent,
Y'a des roses, des primevères, du lin et de la glycine

Et sous nos ventres ronds sera-t-on les filles de nos mères?
Qui menaient tout de front de manière exemplaire

Dans les potagers de nos mères,
Y'a toujours trop de légumes,
Elles nous font des tupperwares
Qu'on ramène c'est la coutume.

Dans les mains de nos mères
Y'a des lignes et des histoires,
Qui pour nous restent un mystère,
Même si on voudrait savoir...

Et sous nos ventres ronds sera-t-on les filles de nos mères?
Qui menaient tout de front de manière exemplaire...Et sous nos ventres ronds sera-t-on les filles de nos mères?
Qui menaient tout de front...Je sais pas si...je saurais faire...





domingo, 4 de maio de 2014

AS MÃES CRESCEM COM OS ANOS





AS MÃES Crescem com os anos

As mães sobem uma escada até ao céu,
sobem e descem a escada longa dos filhos;
as mães olham para cima, firmam as mãos na escada
e pensam com os olhos. Ficam de pé ―morrem de pé
se for preciso― a pensar as estrelas. Cada uma delas
é um pulmão jovem, um alvéolo inviolável.
As mães crescem com os anos, tornam-se ramos
a baloiçar na escada: são perenes, persistentes
e mansas. As mães abrigam os pássaros no olhar,
tomam-nos nas mãos como oferta sagrada
e soltam-nos do alto da escada: voam, voam,
crescem contra as nuvens e são água, espuma,
exílio azul. Os filhos são os olhos das mães, aflitos
e saudáveis, à espera que floresça a flor fria
da amendoeira. Olhos que partem para regressar a si.


Nuno Higino
Mãe E leva os filhos nos olhos como se os levasse pela mão