sexta-feira, 29 de julho de 2011

Viagens na minha relva

De todas as formas que conheço de viajar nesta altura do ano as minhas viagens preferidas, são as que faço sentada ou deitada na relva do meu jardim…

Bastam-me uns quantos livros e discos um bom pedaço de sombra e… hoje fui até à Sardenha!

Fui até lá através da música. Ouvia no meu ZEN um tema tocado por, AL DI MEOLA, um músico Americano que aprecio, o tema chama-se, NO POTHO REPOSARE, que numa tradução muito livre minha quer dizer; “Estou em completo desassossego”. Por não me soar totalmente a italiano pus-me então a pesquisar e descobri um belíssimo poema em língua sarda, a língua mais falada na Sardenha ou Sardigna além do italiano. O sardo é uma língua românica, muito próxima do latim, com influências etruscas e fenícias e de outras línguas do oriente próximo à ilha e ainda do Basco. Dependendo ainda da zona da ilha onde é falada tem umas quantas variantes. Confesso que tenho absoluto fascínio pela sonoridade e especificidade das línguas, principalmente se posso viajar nelas através da música e da poesia como pude fazer hoje à tarde sem sair da relva. 

Deixo aqui as duas versões que mais gosto desta belíssima canção de amor, da qual não me atrevo a fazer tradução, simplesmente por acreditar que cada um deve ler o amor à sua medida e porque há amores que de tão belos não convém tocar!



No potho reposare amore e coro,
pensende a tie so donzi momentu.
No istes in tristura prenda e oro,
ne in dispiaghere o pensamentu.
Tassicuro che a tie solu bramo,
ca tamo forte tamo e tamo e tamo.
Si messere possibile danghelu
sispiritu invisibile piccabo.
Sas formas e furabo dae chelu
su sole e sos isteddos e formabo
unu mundu bellissimu pro tene,
pro poder dispensare cada bene.
Unu mundu bellissimu pro tene,
pro poder dispensare cada bene.
No potho viver no chena amargura
Luntanu dae te amadu coro
A nudda balet sa bella natura
Si no este accurtzu su meu tesoro
E pro mi dare consolu e recreu
Coro, diosa amada prus e Deus
E tassicuro che a tie solu bramo,
ca tamo forte tamo e tamo e tamo.
E tassicuro che a tie solu bramo,
ca tamo forte tamo, tamo e tamo.

Non posso riposare amore del mio cuore,
perché penso a te ogni momento.
Non essere triste gioiello dorato,
né dispiaciuta o preoccupata.
Ti assicuro che voglio solo te,
perché ti amo tanto, ti amo, ti amo.
Se mi fosse possibile,
prenderei lo spirito invisibile di un Angelo;
Ruberei tutte le forme dal cielo,
il sole, le stelle e creerei
un mondo bellissimo per te,
per poterti dare ogni bene
Non posso vivere, no, senza amarezza
Lontano da te, cuore amato
A nulla vale la bella natura
Se non è accanto a me il mio tesoro
E per darmi consolazione e ristoro
Cuore, fortunata amata più di Dio
Ti assicuro che voglio solo te,
perché ti amo tanto, ti amo, ti amo.
Ti assicuro che voglio solo te,
perché ti amo tanto, ti amo, ti amo.


quarta-feira, 27 de julho de 2011

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Brincar com o vento



Ela sempre achara divertidos os dias em que o vento varria a praia. Principalmente se era Verão. Divertia-a ver chegar pela manhã os “praiantes” como dizem os pescadores seus amigos, carregados de tudo quanto é desnecessário para ficar um dia inteirinho a torrar ao sol! Pior, para eles claro, era quando o vento começava a aumentar de intensidade…

Era ver os guardas sol a voar pela praia, e os pára-vento sem conseguirem cumprir a missão a que estavam destinados e já se sabe pela hora do almoço a nortada tinha expulsado todos do areal. Todos todos não. As gaivotas continuavam na praia e sabiam divertir-se ao sabor do vento, bastava olha-las a planar para perceber com estavam felizes!

Ela também sabia brincar com o vento! Tinha descoberto que os melhores dias para fazer bolinhas de sabão, são aqueles em que faz mais vento. Que de outra forma voariam tão longe e estenderiam a sua magia por tanto tempo?!

Mas hoje o dia estava óptimo para lançar um papagaio!

Chamaria os sobrinhos e sorria já ao imaginar o quanto iriam divertir-se!

Ela gostava principalmente da parte em que o papagaio finalmente dançava ao vento e cá em baixo no areal ela desejava estar no seu lugar…

domingo, 17 de julho de 2011

Ideia de Boneca

                                                                          Gustav Klimt
    
Olhou a boneca que acabara de desenhar na areia e sorriu, ela nunca gostara de brincar com bonecas e sempre que descia à praia não parava de desenhá-las. Para falar verdade as bonecas que costumavam oferecer-lhe eram tão sem alma, desprovidas de expressão, ela nunca teve nenhuma a quem conseguisse adivinhar um coração.

Teve várias bonitinhas, muito bem vestidas, (seja lá o que isso for), algumas até vindas de Paris, mas todas de olhar vazio e a nenhuma conseguia adivinhar um coraçãozito por dentro do peito.

A sua boneca teria de ter um sorriso rasgado e luminoso, olhos de mar sem fim, dos seus cabelos de algas teriam de sair estrelas muito azuis e ao vestido bordado a conchas e pedrinhas multicolores o mar viria juntar um casaco de espuma. O seu coração tinha de ter doçura e grandeza quanto baste para amar o longe e a miragem ser excessivamente encantado e apaixonado ter vontade de guardar o mundo dentro…

Ali na areia estava a boneca dos seus sonhos, aquela que nunca ninguém lhe oferecera e que o mar não tardaria em levar.
                                                                

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Caír no Arco-íris


Rainbow sleeves



You used to dream yourself away each night
To places that you'd never been
On wings made of wishes
That you whispered to yourself
Back when every night the moon and you
Would sweep away to places
That you knew
Where you would never get the blues

Well now, whiskey gives you wings
To carry
Each one of your dreams
And the moon does not belong to you
But I believe
That your heart keeps young dreams
Well, I've been told
To keep from ever growing old
And a heart that has been broken
Will be stronger when it mends

Don't let the blues stop you singing
Darling, you've only got a broken wing
Hey, you just hang on to my rainbow
Hang on to my rainbow
Hang on to my rainbow sleeves


(written by Tom Waits)

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Nalgum Lugar...




There's a place for us
Somewhere a place for us
Peace and quiet and open air
Wait for us
Somewhere
There's a time for us
Someday there'll be a time for us
Time together with time to spare
Time to learn
Time to care
Someday, somewhere
We'll find a new way of living
We'll find there's a way of forgiving
Somewhere
There's a place for us
A time and a place for us
Hold my hand and we're half way there
Hold my hand
And I'll take you there
Somehow
Someday, somewhere

domingo, 10 de julho de 2011

Lugares do Meu Mundo


Nos dias em que queremos esquecer o mundo ou este parece ter-se esquecido de nós é bom saber de lugares que são assim como uma concha, lugares onde nos sentimos protegidos e onde procuramos formas de suavizar a vida.
Felizmente ela sabia de vários lugares assim…
Às vezes bastava-lhe um sopro de vento, um acorde de pássaro, uma praia vazia, um respirar de estrelas, um olhar sobre o rio e tudo o resto deixava de ter importância.
Mas o seu lugar preferido era sem dúvida a sua varanda virada para o Douro, agora que o Verão chegara a trepadeira que a envolvia estava cheia de flores lilás que exalavam um perfume nocturno, flores que preferem a luz da lua e o brilho das estrelas, talvez perfumem a noite aos grilos e ralos que cantam em seu redor.
Noutras noites as águas do rio parecem abraçar-se ao céu e as estrelas aproveitam para poder banhar-se, mas hoje o céu está negro e as estrelas vestidas de nuvens, não esta noite não virão banhar-se no rio, mas ela ficará ali, vai esperar a chegada do sol!

quinta-feira, 7 de julho de 2011

Em barca de nuvens sigo


Venturosa de sonhar-te,
à minha sombra me deito.
(Teu rosto, por toda parte,
mas, amor, só no meu peito!)

-Barqueiro, que céu tão leve!
Barqueiro, que mar parado!
Barqueiro, que enigma breve,
o sonho de ter amado!

Em barca de nuvens sigo:
e o que vou pagando ao vento
para levar-te comigo
é suspiro e pensamento.

-Barqueiro, que doce instante!
Barqueiro, que instante imenso,
não do amado nem do amante:
mas de amar o amor que penso!

Cecília Meireles