Quando entrei na sala
esta manhã, estava longe de imaginar que daí a minutos viajaria até ao Japão
com os meninos!
E a culpa foi do meu caderno!
Quer dizer, o caderno não teve culpa de nada coitado! Estava bem quietinho na
secretária, mas a capa do caderno suscitou a curiosidade dos meninos que
olhando para a imagem se perguntavam, de onde seriam estes palácios.
- Vê-se logo que são
palácios da China! Dizia a Bruna.
- Do Japão! Afirmava
convicto o Gonçalo.
Os meninos olharam para
mim esperando que desse razão a um dos dois. Apesar dos meus parcos
conhecimentos em arquitetura do Oriente, eu sabia que os palácios e templos
Japoneses e Chineses eram muito parecidos. Sendo que foram os Japoneses a inspirar-se
nos Chineses. Mas como calculam, aos meninos isso não interessava grande coisa.
Por isso, pegamos no globo terrestre e chegamos à conclusão que a China e o
Japão nem ficavam assim tão longe… Talvez fosse essa uma das razões porque eram
os palácios tão parecidos.
- A China é maior, deve
ter mais palácios! Constatou o Pedro.
- Mas afinal são
parecidos. Disse contente a Bruna.
E foi assim que os
meninos se puseram a desenhar palácios de lugares inesperados e distantes e que
ainda estão por existir.
Pelas canções de LLuís
LLach, já confessei aqui o meu amor de perdição. Atrevo-me até a dizer que dos
cantautores de que gosto para mim é aquele que melhor canta a ternura.
Procurei há dias esta
canção porque queria partilhá-la com uma amiga especial que acabara de perder
alguém muito querido. Não cheguei a enviar-lha…
Dizia-me ela, que o
mais terrível de tudo quando perdemos alguém, é ficar com a sensação que não
fizemos nem dissemos, quase nada do que queríamos ou devíamos!
Se calhar nem
precisamos de dizer ou fazer nada, porque aos que amamos,
“Simplesmente temos de
deixar que nos deixem
E ter um ninho na nossa
árvore com uma nuvem bem branca pousada num dos ramos…”
Para o caso de
voltarem, ou não…
Considero esta canção
um verdadeiro tratado sobre ternura e porque também quero dizer aqueles que
amo, “ que para eles sempre terei um ninho na minha árvore, e uma nuvem branca
presa num dos ramos”, vou partilhá-la aqui.
Un núvol blanc
Senzillament
se'n va la vida, i arriba
com un cabdell que el vent desfila, i fina.
Som actors a voltes, espectadors a voltes,
senzillament i com si res, la vida ens dóna i pren paper.
Serenament quan ve l'onada, acaba,
i potser, en el deixar-se vèncer, comença.
La platja enamorada
no sap l'espera llarga
i obre els braços no fos cas, l'onada avui volgués queda's.
Així només, em deixo que tu em
deixis;
només així, et deixo que ara em deixis.
Jo tinc, per a tu, un niu en el meu arbre
i un núvol blanc, penjat d'alguna branca.
Molt blanca...
Sovint és quan el sol declina que el
mires.
Ell, pesarós, sap que, si minva, l'estimes.
Arribem tard a voltes
sense saber que a voltes
el fràgil art d'un gest senzill, podria dir-te que...
Només així, em deixo que tu em
deixis;
així només, et deixo que ara em deixis.
Jo tinc, per a tu, un niu en el meu arbre
i un núvol blanc, penjat d'alguna branca.
Molt blanc...
Sencillamente nuestra vida se aleja
como una rueca se deshila, termina.
Actores unas veces espectadores siempre
sencillamente y sin saber
la vida quita y da papel
Serenamente hay una ola que acaba,
quiza en dejarte que te venza comienza.
La playa enamorada no gusta esperas largas
y abre los brazos hacia ti porque se puede arrepentir.
Asi sin mas me dejo que me dejes
sin mas asi te dejo que me dejes
hice por ti un nido aqui en mi arbol
y una nube blanca colgada de una rama
muy blanca muy blanca
A veces cuando el sol declina lo miras
sabe y le pesa que sin lengua lo estimas
llegamos tarde a veces sin conocer que a veces
con un sencillo gesto al fin podría decirte que
sin mas asi me dejo que me dejes
sin mas asi me dejo que me dejes
hice por ti un nido aqui en mi arbol
y una nube blanca colgada de una rama
muy blanca
Chuva,
manhã cinzenta, guarda-chuva.
Entrar no contexto, dois pontos. Ele e ela
abraçados caminham sob o teto
do guarda-chuva que os guarda.
Pelas ruas vão com vontade de voltar
ao branco dos lençóis. Esse objeto prosaico
que às vezes se vira com o vento
torna-se objeto de poema. Dizer também
como a chuva é doce neste dia de verão.
Como o amor altera o sentido da chuva,
sim, como ela se eleva no ar e as frases se colam
ao vestido.
No interior da pele o poema mudou
desde que entrastes no guarda-chuva esquecido
a um canto do armário.
Talvez o amor seja tudo amar sem exceção.
No meio do mar havia um
palácio onde morava uma Rainha.
A Rainha das conchas e
conchinhas como era conhecida, pois não havia dia em que não fosse vista na
beirada catando conchas, conchinhas e até pedrinhas.
Logo pela manhã e não
eram raros os dias em que gostava de surpreender o sol, a Rainha abria a janela
do seu palácio, aquela que ficava bem no meio do mar, e para os que acham que é
difícil encontrar o meio ao mar, posso dizer que era aquela janela que não
ficava nem à direita nem à esquerda, era mesmo, mesmo no meio… Aquela onde se
pode ver o mar todo, todinho!
A Rainha abria a janela
para respirar e beber o mar, gostava dele agitado e com muita espuma,
salpicando-lhe o rosto e perfumando-lhe a pele…
Aproveitava ainda
aquela hora para soltar alguns dos seus sonhos que eram muitos ao vento. Este
em troca contava-lhe os segredos que ia ouvindo daqui e dali…
Então a Rainha descia à
praia. Saltava nas ondas, corria na areia até chegar ao mar de conchas onde
mergulhava tempos infinitos e onde tudo o resto deixava de ter importância. Ali
estava ela, ela e as suas preciosas conchas. Bom, na verdade, nem as conchas
eram só suas, nem estas eram assim tão preciosas. Mas a ser verdade que as
conchas da beirada são de toda a gente, ela não se lembrava de ter visto em
toda a praia alguém que não fosse ela, acocorado selecionando conchas,
conchinhas e pedrinhas!
Agora levava consigo só as mais raras, as de cores
diferentes, acabava sempre por levar para o palácio mais do que a conta. Se lhe
perguntassem quantas conchas tinha no seu palácio não saberia responder.
Definitivamente tinha-lhes perdido a conta. Tinha-as de todos os tamanhos,
formatos, cores, texturas. Guardava-as com ternura em caixinhas, que abria
sempre que o mar não a deixava descer à praia ou simplesmente porque lhe
apetecia adornar os cabelos de beijinhos, colocar um cinto de caracóis do mar
no vestido, um colar de búzios… Uma vez fez até uns sapatinhos com conchas de
mexilhão e cordões de algas, ficaram lindos! Pena que tivessem deixado de
servir-lhe…
Mas tinha tudo guardado
em caixinhas, caixinhas que empilhava nas estantes juntas aos livros.
Conchinhas e livros.
Eram os bens mais preciosos da Rainha. Aqueles que não trocaria por nada, e que
guardava na caixa forte do seu coração!
Caixas e páginas de
insignificâncias que faziam dela uma Rainha Feliz!
Acreditava que ao fim
da tarde o sol mergulhava nas águas para iluminar a vida das sereias e os seus
belos jardins…
Sozinha na beirada apreciava
o voo livre e silencioso das gaivotas, o vaivém manso das ondas que remexiam
as areias como que acomodando o sono às conchas.
Na praia começava a
respirar-se a noite e ela experimentava mais uma vez um estado de alma tão raro…
Como na canção de Jobim...da praia, Teresa sou.
Mulher,Mãe,Educadora de Infância,de criança em campo lavrado,de adolescência em montanha subida, de adulta em cidade emparedada.
Marítima d'alma, quer em vento que se "alevanta", quer em onda mansa que se espraia.