domingo, 29 de janeiro de 2012

LER A CHÁVENAS DE CHÁ


Fazia tempo que não passava uma tarde no sofá.

Quer dizer, no sofá da sala de estar. Normalmente preferia os sofás de areia, de conchas, de relva, de ramos de árvore ou o banco bem no fundo do jardim, aquele ladeado ora de malmequeres, de miosótis ou das suas flores preferidas, aquelas que os sonhos conseguem inventar. As mais belas e raras… aquelas que só ela via!

Mas hoje estranhamente apetecia-lhe ficar ali no sofá da sala frente à lareira…

A tarde estava cheiinha de sol e nem por isso muito fria!

Mas tinha decido que ficaria ali enrolada na preguiça com o gato da casa que era o único a fazer-lhe companhia.

Do sofá olhou compridamente o gato que tinha escolhido a fatia mais ensolarada da janela e pensou no quanto gostava de gatos. Animais cheios de personalidade e vontade própria, nada submissos conscientes da sua independência. O seu dormia de orelha em pé, parece que é assim que dormem todos os gatos. Parece que dormem e no entanto estão sempre de vigia reagindo a qualquer barulhinho, até ao crepitar da madeira a arder…

Via-lhe ainda a orelha a tremer cada vez que virava a página do livro que tinha escolhido para embrulhar a tarde e como já se sabe que a curiosidade matou o gato, este não tardou em levantar-se da janela para vir certificar-se do que ela fazia. Talvez porque ao pousar a chávena do chá no pires tivesse feito um pouco mais de barulho.

Não sei se procurando imitar o gato ou simplesmente procurando o sol que o fogo da lareira estava longe de igualar, correu para a janela escolheu também uma fatia de sol e ficou ali de chávena na mão a olhar o mar e a ouvir as Variações Goldberg de Bach.

O gato continuava a dormir de orelha à espreita...

4 comentários:

Anónimo disse...

Uma escrita de uma beleza indescritível. Suave e muito muito belo este texto. Prosa poética pura.
Cara colega, o gato e Bach bem merecem um texto destes.

Anónimo disse...

FOGO!
Sou a PRIMEIRA da fila qd publicares o livro!
EU!

Anónimo disse...

Lindo!

Adoro ler, leio imenso. Já li muitos livros. Ainda agora, parei de ler para aqui vir. Estou de serviço de 24H00. Ler faz o meu tempo voar... transporta-me para outras paragens. Assim, não fico constantemente a olhar para o relógio e a desejar estar em casa com a minha, querida e amada, família.

Leio e visito o "nosso" Búzio do vento. Adoro ler tudo o que escreve... sente-se que o faz com alma! Não fica aquém de grandes escritores. Antes, fica muito além de alguns eles.

Anónimo disse...

Que linda homenagem ao nosso gato!
Se ele soubesse ler ficaria feliz por certo.

ELISA