Cansam-me as vidas” videirinhas “, de gente sem ambição, gente que não quer mais, não quer ser diferente. Gente, que não leva a ternura ao exagero, que não ama o longe e a miragem. Cansam-me as vidas emaranhadas, de gente que nunca sabe a sua razão de ser dia, gente formatada e conformada!
Ah! Se pudesse ensinar-lhes a música do mar que em mim navega! Se pudesse ao menos dizer-lhes, que todos os dias olho o céu com o mesmo fascínio e espanto, e o mar como um mistério!
Talvez se tornassem, mais solidários, inconformados, solitários …
Talvez se apercebessem que só temos os abraços que damos, que vale a pena dizer na cara o que não devemos e nem sequer é preciso frequentar os sítios recomendados, basta simplesmente que sejamos nós!
O que torna mágica a nossa existência, não será a nossa história? Única, irrepetível… Não será o nosso mundo feito de histórias deliciosas? A minha, a tua, as nossas, as vossas…
Histórias que se cruzam por vezes, vá-se lá saber porquê!
Histórias que melhoram a nossa história, que nos fazem sentir mais especiais, que nos abrem sorrisos rasgados, nos fazem esbanjar ternuras, nos mostram que a vida vale mais a pena. Histórias de sonhos, que quando se tornam reais, são ainda melhores do que sonhamos! Dos muitos pedacinhos de histórias que fazem a minha história, porque confesso, quando se trata de histórias, não sou nada esquisita!
Lembro com uma ternura enorme, uma história, contada pela minha avó Emília. Era a história de uma menina que se cansou de ser princesa!
A história começava com a menina princesa a chorar desalmadamente na torre do seu belo castelo. Então, aparecia um lindo pássaro azul, que vinha como que em socorro da bela princesa. Aliás, quando conseguiu enxugar as lágrimas e olhar o pássaro azul, a princesa jurou já tê-lo visto outras vezes, cantando no arbusto mais belo do Jardim!
- Talvez eu já tenha estado aqui outras vezes, cantando para ti. - disse o pássaro azul.
- Eu apareço sempre que alguém precisa de mim. Mas conta-me, o que tanto te aflige?! - A menina princesa, contou então ao lindo pássaro azul, porque estava tão triste… Era a princesa herdeira, todos esperavam que fosse bem comportada. Que sorrisse, mesmo que na sua alma morasse a mais profunda das tristezas! Que chorasse, se a situação assim o exigisse, mesmo que nada sentisse, o importante era que todos pensassem, que as lágrimas eram verdadeiras. Mas o pior, era ter de fazer tudo o que lhe mandassem!
Ela, que sempre fora mal mandada! Ela que segundo a Mãe, só gostava de fazer o que nenhuma princesa pode ou deve fazer. Coisas como, subir às árvores, andar descalça, falar com todas as pessoas, fazer o que o seu coração lhe mandasse, e não o protocolo, que para quem não sabe, é uma coisa que só serve para complicar e tirar o sabor á vida!
A culpa, disto tudo, era dos livros que o rei, seu pai, tinha permitido que lesse. Dizia, a rainha furiosa:
- Eu bem sugeri que a proibisse de entrar naquela maldita biblioteca! - Acrescentou!
-Disparates, minha querida, ler, vai fazê-la melhor princesa!
E como tinha razão o senhor seu pai.
Os livros, tinham-na feito, viajar, conhecer outros mundos, outras culturas, outros universos, tinham-na feito sonhar e inventar sonhos, e só quem inventa sonhos, consegue perceber melhor os sonhos de outros. Sim, porque os sonhos, aumentam a qualidade da alma, fazem transbordar o coração de bondade, e estes serão os requisitos para se ser uma verdadeira princesa.
Mas também as princesas têm direito a escolher o que fazer da sua vida. Para que a sua história, seja uma história feliz, pelo menos, enquanto assim quiserem!
Nunca soube se a princesa, chegou a reinar, mas sempre tive por ela grande admiração. Como admirava o seu reino interior! E não será esse o melhor reino das histórias?
Abriu os olhos…Pela janela entravam tímidos, os primeiros raios de sol. Só então se deu conta que tinha adormecido mais uma vez na cadeira de baloiço da biblioteca. Olhou o relógio da secretária, eram seis da manhã!
Adorava acordar quando toda a casa ainda dormia. Como gostava daquelas primeiras horas de cada manhã. O silêncio da casa, o canto dos pássaros… Olhou o rio, o seu maravilhoso Douro. Também este parecia espreguiçar-se lentamente enquanto o sol começava a dourar as suas águas. Sol, que entrava agora mais forte pela janela enchendo de luz todas as coisas, como que afastando definitivamente a fria e escura noite!
Subiu até ao seu quarto. Da varanda veria o sol nascer. Sentiria o cheirinho a terra húmida, ouviria melhor os pássaros multicolores e sonharia ser um deles.
Como era lindo! …
Se o paraíso existe, ele era ali mesmo, na sua varanda, na casa dos Avós!
Que bom, voltar aos lugares e cheiros da infância!
Como na canção de Jobim...da praia, Teresa sou.
Mulher,Mãe,Educadora de Infância,de criança em campo lavrado,de adolescência em montanha subida, de adulta em cidade emparedada.
Marítima d'alma, quer em vento que se "alevanta", quer em onda mansa que se espraia.