sábado, 5 de junho de 2010

Rosas Silvestres


Conversava com uma amiga sobre flores preferidas. Ela achava ser quase “pecado” ter preferência por esta ou aquela, pois se são todas tão belas! A Rosita pode até estar certa, mas eu tenho as minhas preferidas!

Das flores, prefiro as silvestres. As que nascem sem ser semeadas, livres, que lançam cores e exalam perfumes em jardins espontâneos, talvez por isso os mais belos. Das que nascem em locais pouco previsíveis, e que quando as olhamos, nos fazem ter a certeza, que o impossível não existe! Gosto de malmequeres amarelos, e se misturados com papoilas, a combinação é sublime.

E de miosótis, já olharam bem os miosótis quando estão juntinhos? Não parecem mesmo pedacinhos de céu?! E as rosas Silvestres? As rosas que coloriam e perfumavam a minha varanda durante todo o verão. Essas sim, são as minhas preferidas! E porque de rosas silvestres, sei de um texto encantador, dessa maravilhosa escritora, que é, Clarisse Lispector, vou aqui partilhá-lo:


“Só esta expressão rosas silvestres já me faz aspirar o ar como se o mundo fosse uma rosa crua. Tenho uma grande amiga que me manda de quando em quando rosas silvestres. E o perfume delas, meu Deus, me dá ânimo para respirar e viver.

As rosas silvestres têm um mistério dos mais estranhos e delicados: à medida que vão envelhecendo vão perfumando mais. Quando estão à morte, já amarelando, o perfume fica forte e adocicado, e lembra as perfumadas noites de lua de Recife. Quando finalmente morrem, quando estão mortas, mortas----aí então, como uma flor renascida no berço da terra, é que o perfume que se exala delas me embriaga. Estão mortas, feias, em vez de brancas ficam amarronadas. Mas como jogá-las fora se mortas, elas têm a alma viva? Resolvi a situação das rosas silvestres mortas, despetalando-as e espalhando as pétalas perfumadas na minha gaveta de roupa.

Da última vez que minha amiga me mandou rosas silvestres, quando estas estavam morrendo e ficando mais perfumadas ainda, eu disse para meus filhos:

- Era assim que eu queria morrer: perfumando de amor.

Morta e exalando a alma viva.

Esqueci de dizer que as rosas silvestres são de planta trepadeira e nascem várias no mesmo galho. Rosas silvestres, eu vos amo. Diariamente morro por vosso perfume.”

Clarice Lispector - "A Descoberta do Mundo"



.

Sem comentários: