quinta-feira, 22 de abril de 2010
A Terra
Cristina - 4 anos
quarta-feira, 21 de abril de 2010
A parte de trás do Céu!
As crianças discutiam entre elas, para onde iriam as estrelas do céu durante o dia!
A Cristina foi a primeira a avançar com a resposta:
- De noite estão no céu e de dia vão para o mar!
- Não é nada disso. Disse o Alexandre!
- Elas estão sempre no céu.
- Ai é! Então diz onde é que elas estão!? Voltou a perguntar a Cristina, desta vez dirigindo-se para a janela e levando quase todo o grupo atrás dela.
- Estão atrás das nuvens, escondidas. Disse agora a Sara.
- Mas ali não há nuvens nem estrelas! Quem falava era o Henrique, enquanto apontava um pedaço de céu azul.
- Porque elas estão na parte de trás do céu. É por isso que não conseguimos vê-las. Era a voz do Hugo. Parecia por momentos que a conversa iria terminar ali…
- O céu não tem nenhuma parte de trás! Disse convicta a Luana.
- Tem, tem! É a parte que não se vê! Dizia de novo o Hugo.
Mas a Cristina insistia:
- Elas de dia, gostam de nadar no mar. Não te lembras? Quando fomos à praia estavam montes de estrelas no mar! Depois quando fica noite, elas sobem para o céu!
O grupo estava dividido! Para onde iriam realmente as estrelas?
Claro, tentaram que fosse eu a dar-lhes a resposta. Mas como estou na sala para criar problemas, devolvi a pergunta.
- O quê que acham? As estrelas estão na parte de trás do céu, durante o dia. Ou descem até ao mar, para voltar a subir quando chega a noite.
As crianças continuam sem chegar a acordo.
Por mim, adoro a teoria de que mergulham no mar durante o dia, para voltar ao céu á noite. Eu se fosse estrela, não gostaria de estar sempre no mesmo sítio!
Claro, o Hugo tem direito á sua opinião. E como está convicto dela!
E vocês? O quê que acham?
Ah! Nunca tinham pensado nisso!
domingo, 11 de abril de 2010
Cecília, o Douro e Eu
Levaram as grades da varanda
por onde a casa se avistava.
As grades de prata.
Levaram a sombra dos limoeiros
por onde rodavam arcos de música
e formigas ruivas.
Levaram a casa de telhado verde
com suas grutas de conchas
e vidraças de flores foscas.
Levaram a dama
e o seu velho piano que tocava,
tocava, tocava a pálida sonata.
Levaram as pálpebras dos antigos sonhos,
deixaram somente a memória
e as lágrimas de agora.
(Cecília Meireles)
SAUDADE
Na areia do Douro, orvalhada de ouro,
menina Olinda, era lindo brincar.
Transparentes peixes, translúcidos seixos
entre os nossos dedos vinham desmaiar.
menina Ondina,
muito longe de nós.
Dentro das figueiras, vozes zombeteiras
armavam espelhos para a nossa voz.
rio sossegado seus largos barris.
Ah, na areia clara quem sempre ficara,
menina Ondina,
pastoreando as ondas, pastora feliz!
menina Ondina!
Pela névoa sem fim,
vinha o carpinteiro,
com brancas madeiras
talhar barcas novas, iguais a marfim.
Neblinas tão vastas, areias tão gastas,
menina Ondina!
E no meu coração
caminhos tão longos para a água dos sonhos,
longos como a areia dourada do chão. . .
menina Ondina,
para o escondido mar.
Levava esquecidas também nossas vidas,
com os peixes, os seixos e as coisas, divinas
que morrem sem se acabar. . .
terça-feira, 6 de abril de 2010
Quando menina, a Avó abria a janela para deixar entra a luz do sol. E eu deixava-me ficar toda enroscadinha a ouvir o canto dos pássaros, tentando adivinhar o que diziam.
Tanta chilreada, só poderia querer dizer que estavam a preparar uma grande festa, onde contariam uns aos outros histórias das suas maravilhosas viagens.
Falariam da grande Muralha da China, das densas florestas que tinham sobrevoado, das cidades cheias de luz…
Já acordadinha, corria para a varanda do quarto para dizer bom dia ao rio. Ao rio Douro, que em todo o seu esplendor se estendia ali perante os meus olhos e a minha varanda.
Varanda, que às vezes virava barco e me levava a correr mundo…
E era tão bom, ficar ali, a ver os raios de sol entrar na água, os peixes a saltar…
E nas noites de Verão, antes de adormecer, a Avó ficava comigo na varanda a ver as estrelas. Contava-me a história de uma princesa que quando estava zangada consigo e com o mundo, subia até às estrelas, e ali se deixava ficar, gritando e fazendo caretas, para depois voltar á Terra alegre e bem-disposta.
Eu própria já experimentei, fazer como a tal princesa. Quando estou zangada com tudo e com todos, vou até às estrelas e juro que venho de lá muito melhor!
Ou então naqueles dias em que queremos o céu só para nós. É tão bom viajar até às estrelas, ficar aconchegadinha numa das suas pontas e voltar só quando apetecer!
Porque será que as Avós têm sempre razão?
sábado, 3 de abril de 2010
Sophia, Dona Laura e a Menina do Mar
“ Com muito cuidado para não fazer barulho levantou-se e pôs-se a espreitar escondido entre duas pedras. E viu um grande polvo a rir, um caranguejo a rir, um peixe a rir e uma menina muito pequenina a rir também. A menina, que devia medir um palmo de altura, tinha cabelos verdes, olhos roxos e um vestido feito de algas encarnadas. E estavam os quatro numa poça de água muito limpa e transparente toda rodeada de anémonas.”
“ Tu nunca foste ao fundo do mar e não sabes como lá tudo é bonito.”
Há florestas de algas, jardins de anémonas, prados de conchas. Há cavalos marinhos suspensos na água com um ar espantado, como pontos de interrogação. Há flores que parecem animais e animais que parecem flores. Há grutas misteriosas, azuis-escuras, roxas, verdes e há planícies sem fim de areia fina, branca, lisa. “
Sophia de Mello Breyner Andresen, in A Menina do Mar
Não resisti a colocar aqui um pedacinho do maravilhoso conto de Sophia.
Li-o pela primeira vez, ainda menina com oito anos de idade, pela mão da minha Professora primária, a Dona Laura! Uma daquelas professoras que jamais esquecemos.
A Dona Laura que sabia usar as palavras para preparar o sonho! Sim, porque as palavras de pouco servem se não nos fazem sonhar. E Dona Laura era especialista em sonhos. Em sonhos, ternuras e palavras. Tudo o que é preciso para se ser um bom professor!
E como era grande a alma de Dona Laura. Quando lia, a sua alma ficava com a cor do sonho, e era tão fácil amar os livros e as palavras depois de ouvi-la!
Penso na sorte que tive em conhecê-la e na forma como influenciou a minha prática pedagógica. Nunca consigo resistir a um projecto que me faça sonhar. Como este, proposto pela equipa da Ciência Viva de Vila do Conde, que a pretexto do conto de Sophia, A Menina do Mar, leva professores e meninos a conhecer os ecossistemas marinhos.
E foi assim, que pela segunda vez, fomos até á praia para estudar as poças de maré.
Desde miúda que adoro “meter o pé na poça”, mas nunca imaginei que uma poça de maré fosse um lugar com tanta vida e sobretudo com criaturas tão maravilhosas!
Uma manhã inteirinha passada na praia do cruzeiro, que para quem não conhece é a praia mais bonita, depois de Vila Chã. Sob a orientação das Biólogas Elsa Santos e Marina.
Manhã de Mar, descobertas, fascínios e aprendizagens.
Imaginem, estrelas-do-mar, ouriços, anémonas, várias espécies de algas, pequenos peixes, caranguejos, caracóis… tudo isto, numa poça de maré!
Mas a criatura que mais me fascinou foi o caranguejo eremita ou casa alugada. Trata-se de um pequeno caranguejo que usa as conchas de búzios ou caracóis já mortos para se proteger, pois não tem a carapaça dura como os outros. Em alguns casos as anémonas fazem-lhes companhia e fixam-se às casas dos eremitas. Por um lado, as anémonas protegem os eremitas de predadores que os queiram atacar e, por outro, os restos de comida dos eremitas são para as anémonas. Quando os eremitas crescem e têm de mudar para conchas maiores, levam consigo as suas anémonas para o novo abrigo.
Fantástico! Não acham?
E muito mais haveria para descobrir, mas a maré estava a subir. O mar que tinha deixado a descoberto os seus jardins por momentos, viria de novo cobri-los, para voltar a maravilhar-nos na próxima maré baixa!