sábado, 3 de abril de 2010

Sophia, Dona Laura e a Menina do Mar


“ Com muito cuidado para não fazer barulho levantou-se e pôs-se a espreitar escondido entre duas pedras. E viu um grande polvo a rir, um caranguejo a rir, um peixe a rir e uma menina muito pequenina a rir também. A menina, que devia medir um palmo de altura, tinha cabelos verdes, olhos roxos e um vestido feito de algas encarnadas. E estavam os quatro numa poça de água muito limpa e transparente toda rodeada de anémonas.”

“ Tu nunca foste ao fundo do mar e não sabes como lá tudo é bonito.”

Há florestas de algas, jardins de anémonas, prados de conchas. Há cavalos marinhos suspensos na água com um ar espantado, como pontos de interrogação. Há flores que parecem animais e animais que parecem flores. Há grutas misteriosas, azuis-escuras, roxas, verdes e há planícies sem fim de areia fina, branca, lisa. “

Sophia de Mello Breyner Andresen, in A Menina do Mar

Não resisti a colocar aqui um pedacinho do maravilhoso conto de Sophia.

Li-o pela primeira vez, ainda menina com oito anos de idade, pela mão da minha Professora primária, a Dona Laura! Uma daquelas professoras que jamais esquecemos.

A Dona Laura que sabia usar as palavras para preparar o sonho! Sim, porque as palavras de pouco servem se não nos fazem sonhar. E Dona Laura era especialista em sonhos. Em sonhos, ternuras e palavras. Tudo o que é preciso para se ser um bom professor!

E como era grande a alma de Dona Laura. Quando lia, a sua alma ficava com a cor do sonho, e era tão fácil amar os livros e as palavras depois de ouvi-la!

Penso na sorte que tive em conhecê-la e na forma como influenciou a minha prática pedagógica. Nunca consigo resistir a um projecto que me faça sonhar. Como este, proposto pela equipa da Ciência Viva de Vila do Conde, que a pretexto do conto de Sophia, A Menina do Mar, leva professores e meninos a conhecer os ecossistemas marinhos.

E foi assim, que pela segunda vez, fomos até á praia para estudar as poças de maré.

Desde miúda que adoro “meter o pé na poça”, mas nunca imaginei que uma poça de maré fosse um lugar com tanta vida e sobretudo com criaturas tão maravilhosas!

Uma manhã inteirinha passada na praia do cruzeiro, que para quem não conhece é a praia mais bonita, depois de Vila Chã. Sob a orientação das Biólogas Elsa Santos e Marina.

Manhã de Mar, descobertas, fascínios e aprendizagens.

Imaginem, estrelas-do-mar, ouriços, anémonas, várias espécies de algas, pequenos peixes, caranguejos, caracóis… tudo isto, numa poça de maré!

Mas a criatura que mais me fascinou foi o caranguejo eremita ou casa alugada. Trata-se de um pequeno caranguejo que usa as conchas de búzios ou caracóis já mortos para se proteger, pois não tem a carapaça dura como os outros. Em alguns casos as anémonas fazem-lhes companhia e fixam-se às casas dos eremitas. Por um lado, as anémonas protegem os eremitas de predadores que os queiram atacar e, por outro, os restos de comida dos eremitas são para as anémonas. Quando os eremitas crescem e têm de mudar para conchas maiores, levam consigo as suas anémonas para o novo abrigo.

Fantástico! Não acham?

E muito mais haveria para descobrir, mas a maré estava a subir. O mar que tinha deixado a descoberto os seus jardins por momentos, viria de novo cobri-los, para voltar a maravilhar-nos na próxima maré baixa!

1 comentário:

Jorge Manuel Palha disse...

Pois é, os meus amigos não param de me alegrar.
É assim mesmo, Teresa!!! Esse é o caminho.
Adorei e voltarei aqui.
Beijinhos e Aquele abraço:) do
Jorge Palha