sexta-feira, 29 de abril de 2011

“ O Bando Da LIBERDADE”


Aqui na sala já todos sabemos que podemos ser o que quisermos, sempre que quisermos, basta ter muita vontade de ser.

Por isso ninguém estranhou quando numa destas manhãs, o pato da quinta aqui do lado voou por cima da rede e veio cair direitinho no nosso recreio. Tanto mais que também foi assim que travamos conhecimento com o nosso amigo galo Chico.

- Talvez ele queira vir para a escola, disse a Bruna.

-Ele deve querer ser pássaro, mas não consegue voar porque é gordo, continuou o Afonso.

- Os patos da selva voam muito alto. Desta vez era o Gonçalo quem falava.

-Na selva não há patos. Continuou o Afonso.

A discussão foi interrompida, porque o que importava agora era ajudar o nosso amigo pato a encontrar o caminho de volta à quinta.

Os meninos prometeram ficar quietos para não assustar o nosso amigo, mas já se sabe que todos queriam ajudar e o pobre do pato corria desesperado por todo o recreio. Por fim lá conseguimos apanhá-lo, mas devo dizer que o pato era mesmo especial, deu muita luta e mesmo depois de o termos agarrado não se dava por vencido, tentou até dar-me uma bicada. Claro que foi antes de ter percebido que só queríamos ajudar! Abrimos o portão do recreio e o pato foi devolvido à Liberdade. Ou não.

Já na sala os meninos pareciam ter esquecido a discussão anterior, mas eu é que não ia perder a oportunidade de brincar de pensar… e sempre que vamos pensar, os meninos sabem que há sempre um livro que pode ajudar a pensar melhor e a nunca mais acabar de pensar, ou a pensar até “fazer fumo”, expressão que usamos na sala e que só quer dizer: por agora estou satisfeito com as respostas.

Escolhi o livro,” O Voo do Golfinho “, uma história maravilhosa de, Ondjaki, ilustrada brilhantemente por, Danuta Wojciechowska.

Um golfinho que cresceu no mar, que fazia tudo o que faz um golfinho, mas que um dia sonhou ser pássaro e já se sabe que quando sonhamos com muita força, transformamo-nos mesmo em pássaro, num bando de pássaros livres só porque nos apeteceu sonhar…

Talvez o nosso amigo pato tivesse sonhado simplesmente ser pássaro ou descoberto que o seu quintal era pequeno demais para os voos que tinha em mente!

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Coisas que não mudam à nossa volta



Sempre que regressava à escola depois das férias, Dona Regina a minha professora depois de Dona Laura, pedia que escrevêssemos sobre o que tínhamos feito, o que tínhamos gostado mais ou não…

Devo dizer que considerava tal pedido desprovido de imaginação e até um acto de pura coscuvilhice. Lembro que fiquei até sem recreio durante uns tempos porque num desses escritos confessei ingenuamente, que o mais aborrecido das férias tinham sido os trabalhos de casa, dez cópias, escrever vinte vezes as tabuadas, outras tantas vezes os verbos e mais umas tantas tarefas sem préstimo. Aprendi naquela altura que a sinceridade tem custos!

Dona Regina ficou indignadíssima com a minha rebeldia, chegou a perguntar-me que trabalhos de casa sugeria eu, mas antes que tivesse tido tempo de responder-lhe fez valer a sua autoridade e talvez com receio de outras sublevações tirou-me o recreio!

Volvidos estes anos, penso que ainda bem que Dona Regina não me deu tempo de sugerir outros trabalhos de casa, ela nunca iria entender-me e o meu castigo quadruplaria!

Como iria ela entender que as férias são óptimas para ficar quietinha a ser. Que os melhores trabalhos são: muito baloiço, muitos passeios nas nuvens, muitas árvores para trepar, muitos livros para ler, muitos castelos no ar para fazer… NÃO, EU NUNCA IRIA CONSEGUIR QUE DONA REGINA ME ENTENDESSE.

Sem surpresa verifico que Dona Regina, ficaria feliz por saber que hoje em pleno séc. XXI, persistem os fervorosos adeptos dos seus trabalhos de casa e das suas composições pós férias.

Trabalhos rotineiros sem margem para exercitar a imaginação, trabalhos que não fazem voar, não deixam sonhar e não ajudam a crescer.

Ontem quando regressamos à escola pedi aos meninos que contassem o que não fizeram nas férias!

terça-feira, 26 de abril de 2011

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Liberdade feita de flores e sonhos... sempre que quisermos.


sexta-feira, 22 de abril de 2011

O BOM DIA QUE FAZIA



Tinha razão a meteorologia.


O dia acordara cheio de nuvens carregadas de muito cinzento, que choveria era quase certo, aparentemente o dia não convidava a passeios, mas tinha decidido caminhar pela praia.


Sabia que a praia seria só sua.



Ninguém aparece na praia quando chove, quando há neblina e vento. Mas ela sabia que estes podem ser os melhores dias, sobretudo se gostamos de caminhar empurrados pelo vento, ouvindo o grito do mar ecoar pela praia e misturar-nos com a chuva morna.



Com um pouco de sorte, o sol romperia por entre as nuvens e um enorme arco-íris cairia sobre a praia colorindo-a e explicando o bom dia que fazia dentro dela sem razão!


terça-feira, 19 de abril de 2011

"Os Livros São Coisas de Pessoas"

Uma vez defendi que ler, ser viciado em livros, devia ser assim como uma espécie de doença contagiosa, mesmo muito contagiosa, sem direito a vacina ou cura definitiva. Aliás a única posologia que conheço contra o vício de ler e a doença dos livros é ler mais do que basta e desejar sempre mais e mais livros.


Aos que dizem não gostar de ler, confesso tenho muita dificuldade em entende-los. Eu, que não consigo passar um dia sem ler, que adoro estar horas em livrarias bisbilhotando prateleiras, umas vezes buscando um livro do qual ouvi falar, outras sendo surpreendida por livros que parecem vir ao meu encontro.


Não sei de receitas para fazer alguém gostar de ler, não gosto de recomendar este ou aquele livro, posso só dizer dos livros e autores que me encantam, porque me encantam e porque não desaparece o encantamento do que li.


Gosto de livros que são lugares lindos! Como os de José Mauro de Vasconcelos.


Eleger o meu mais preferido livro deste autor seria um problema. É que desconheço um livro de José Mauro de Vasconcelos que não me transporte a um mundo de ternura, sensibilidade e beleza. Livros cheios de aventuras, pequenas histórias, descoberta, gente e coisas. Livros que segundo as palavras do próprio, mostram ao comodismo do mundo, um outro mundo desconhecido.


Um mundo onde gostamos de ficar contando estrelas por entre as folhas das árvores, onde nos sentimos vizinhos dos rios, onde aprendemos a fazer o céu.


Livros que cheiram a terra, que ensinam a embelezar a vida,” a olhar as tardes esperando a hora da calma depois de um dia bem remado.”


Livros que tratam árvores como pessoas, que falam de canoas encantadas, de matas repletas de passarinhos multicolores, de noites que lavam estrelas nas águas dos rios, do vento que irrita as águas do mar, que contam histórias de amor como a de Chicão e Joaninha Maresia.


Histórias carregadas de deslumbramento que contam também da dureza da vida, de almas pequeninas e mesquinhas. Histórias que emocionam e que ninguém duvida terem sido escritas com o coração.


“Os livros são coisas de pessoas”, se nos tornam melhores pessoas é discutível, mas os livros de José Mauro de Vasconcelos fazem parte da pessoa que sou!


domingo, 17 de abril de 2011

Pequena Dor




A tua pequena dor
quase nem sequer te dói
é só um ligeiro ardor
que não mata mas que mói

é uma dor pequenina
quase como se não fosse
e como uma tangerina
tem um sumo agridoce

de onde vem essa dor
se a causa não se vê
se não é por desamor
então é uma dor de quê?

não exponhas essa dor
é preciosa é só tua
não a mostres tem pudor
é o lado oculto da lua

não é vicio nem costume
deve ser inquietação
não há nada que a arrume
dentro do teu coração

talvez seja a dor de ser
só a sente quem a tem
ou será a dor de ter
a dor de ir mais além

certo é ser a dor de quem
não se dá por satisfeito
não a mates guarda bem
guardada no fundo do peito.