Aqui na sala já todos sabemos que podemos ser o que quisermos, sempre que quisermos, basta ter muita vontade de ser.
Por isso ninguém estranhou quando numa destas manhãs, o pato da quinta aqui do lado voou por cima da rede e veio cair direitinho no nosso recreio. Tanto mais que também foi assim que travamos conhecimento com o nosso amigo galo Chico.
- Talvez ele queira vir para a escola, disse a Bruna.
-Ele deve querer ser pássaro, mas não consegue voar porque é gordo, continuou o Afonso.
- Os patos da selva voam muito alto. Desta vez era o Gonçalo quem falava.
-Na selva não há patos. Continuou o Afonso.
A discussão foi interrompida, porque o que importava agora era ajudar o nosso amigo pato a encontrar o caminho de volta à quinta.
Os meninos prometeram ficar quietos para não assustar o nosso amigo, mas já se sabe que todos queriam ajudar e o pobre do pato corria desesperado por todo o recreio. Por fim lá conseguimos apanhá-lo, mas devo dizer que o pato era mesmo especial, deu muita luta e mesmo depois de o termos agarrado não se dava por vencido, tentou até dar-me uma bicada. Claro que foi antes de ter percebido que só queríamos ajudar! Abrimos o portão do recreio e o pato foi devolvido à Liberdade. Ou não.
Já na sala os meninos pareciam ter esquecido a discussão anterior, mas eu é que não ia perder a oportunidade de brincar de pensar… e sempre que vamos pensar, os meninos sabem que há sempre um livro que pode ajudar a pensar melhor e a nunca mais acabar de pensar, ou a pensar até “fazer fumo”, expressão que usamos na sala e que só quer dizer: por agora estou satisfeito com as respostas.
Escolhi o livro,” O Voo do Golfinho “, uma história maravilhosa de, Ondjaki, ilustrada brilhantemente por, Danuta Wojciechowska.
Um golfinho que cresceu no mar, que fazia tudo o que faz um golfinho, mas que um dia sonhou ser pássaro e já se sabe que quando sonhamos com muita força, transformamo-nos mesmo em pássaro, num bando de pássaros livres só porque nos apeteceu sonhar…
Talvez o nosso amigo pato tivesse sonhado simplesmente ser pássaro ou descoberto que o seu quintal era pequeno demais para os voos que tinha em mente!