(Joan Miró)
Era uma praia. Pequena, com mar, gaivotas, areia, conchinhas na beirada… Até aqui a praia parecia não ter nada de especial, afinal todas as praias que conheço são assim. Mas esta garanto é a praia mais especial que conheço, vejo-a da minha varanda e sei tudo o que lá se passa. Bom, quase tudo…
Na minha praia, já sei, a praia não é só minha, mas eu gosto de chamá-la assim. Pensando bem, a varanda virada para a praia também não é só minha, mas talvez ela seja mais minha porque passo lá tempos infinitos a descobrir coisas nas coisas. É uma mania minha, e nisto de manias cada um tem as suas.
E foi da minha varanda que dá para a praia que fiquei a saber da história de uma gaivota e de um menino.
A gaivota vivia na praia. O menino vivia longe daquela praia, mas vá-se lá saber porquê um dia veio ver o mar e gostou tanto da praia que sempre que podia voltava. Já sei, o mar e a praia são iguais em todos os sítios do planeta, mas o menino também gostava mais daquele mar, do meu.
Um dia, estava o menino deitado na areia a ouvir o mar, quando lhe cai um pauzinho de madeira mesmo em cima do nariz! O menino levantou – se e deu de caras com o bico de uma gaivota. Nada assustado olhou-a bem, era uma gaivota muito branca com listinhas castanhas nas asas. Sem saber muito bem porquê o menino gostou da gaivota e a gaivota achou o menino tão especial que não foi nada difícil ficarem amigos. Eu não sei se as gaivotas falam a linguagem dos humanos, mas sei que há humanos que entendem as gaivotas. E eu juro que os ouvia a conversar e a rir, pareciam tão felizes! Contavam histórias um ao outro, voavam juntos, outras vezes ficavam ali a flutuar no imenso azul do mar ou a erguer sonhos na areia…
Depois o menino regressava à terra dos homens. Quando ele partia a gaivota ficava na areia sonhando-o e desejando que regressasse rápido.
E quando o menino voltava de novo à praia o coraçãozinho da gaivota ficava tão feliz e tremia tanto que ela nem conseguia bater as asas direito.
O menino não vem à praia há algum tempo. Como sei? Vejo a gaivota sozinha na praia. Há dias até lhe vi nos olhos uma lagrimazinha de saudade, mas sei que vai esperar pelo menino mesmo que ele já não venha.