domingo, 1 de agosto de 2010

MATILDE ROSA ARAÚJO...Poesia do Sensível



SABER LER NA VIDA


Saber ler na vida - folhear honestamente a vida

Apaixonadamente a vida

Nas arcas da noite, nas arenas do dia:

Risos, lágrimas, serenos rostos aparentes

Como se abríssemos cada dia a verde lima do espanto.

Não passar folhas em branco sem as entender,

Olhar rostos como quem tacteia rugas

Descobrindo planetas de mágoa ou rios de alegria.

A primeira página e o segredo puro dos acabados de gritar

[o primeiro grito,

iluminada inocência do futuro.

E tudo isto

Entre vermes, frutos, flores, rinocerontes, pássaros,

Cães fiéis

Águas e pedras

E o fraterno fogo que acendemos a cada hora,

No espaço branco que é estendermos a nossa mão

Para outra mão apertarmos simplesmente

Mão pela qual corre o sangue como um rio de fogo.

Só temos uns tantos anos para lermos este livro

Debaixo do Sol,

Ou sob o aço da noite

Para este fogo tecer.

Chamarás ciência cultura vida dor espada ou espanto a tudo

[isto

Ou ilegível monotonia.

Nada. Mas lê.


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