terça-feira, 3 de agosto de 2010

Arte de Bem Preguiçar




De que serve estar de férias, se estas não forem sobretudo um tempo sem relógios?! Ou melhor, respeitando apenas o nosso relógio biológico, aquele que durante o resto do ano por isto e por aquilo, somos obrigados frequentemente a contrariar. Em férias, gosto de orientar-me pelo sol ou pela lua, depende…

De tal forma, que nunca chamaria de férias, uma viagem, ainda que de sonho fosse, com todos os minutos contados. Até aqueles em que seria suposto apreciar a beleza e a magia do lugar, sem ter a voz de um ou uma guia a perturbar o meu silêncio interior e a apressar o meu olhar.

Lamento, mas não consigo conhecer uma cidade com o turbo ligado. Não sei visitar um museu numa hora e nunca fui capaz de comer em andamento! E no aeroporto? Ele é correr para fazer o check-in, depois o voo está atrasado, ter de esperar quem sabe quantas horas mais em bancos desconfortáveis, apinhados de gente. Finalmente o voo, de longo curso como convém. Na chegada, ainda falta o fadário das malas, será que são as minhas? Ou terão viajado para outro destino que não o meu?

Desta vez tive sorte, o assunto das malas está arrumado!

Agora é correr para o hotel, ou apartamento, ou lá o que for…

Eis-me chegada finalmente ao inferno, ao paraíso, queria eu dizer!

Quarenta graus à sombra, águas transparentes e azuis, uma multidão na praia, mas com um pouco de sorte talvez consiga estender a toalha! Não há tempo para descansar da viagem, é preciso começar já a morenar que o que é bom acaba depressa. Esperemos que não se lembrem os controladores aéreos de fazer greve para que o regresso corra como o previsto. E assim, as férias em destino exótico serão para mais tarde recordar! Agora só falta mesmo, correr a casa dos amigos para exibir o moreno e o famoso vídeo das férias! Mas a visita tem de ser rápida, temos de deitar-nos cedo, é que amanhã regressamos ao trabalho e ainda não tivemos tempo para descansar!

Não! Não e não!

De viagens para fora já tenho a minha conta. Bem como cá dentro.

O que quero mesmo é viajar para dentro: sem multidões, confusões, horas marcadas só com os meus livros, a minha música e os amigos…

Ficar quietinha, sem fazer nada, contemplando só a glória da vida. Aqui, à sombra da ramada com rio ao fundo, deixo-me fascinar pela natureza que me rodeia, pelas pequenas coisas a que gosto de dar importância, aquelas que preenchem a alma e trazem suavidade e doçura à minha vida.

Viagens?! Sempre. Mas fora de época e fora de horas.




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