O
caminho para a escola tinha três curvinhas…
E
nele, aparecia todas as manhãs uma menina de trancinhas.
Quase
sempre amuada, por causa dos vestidos que a Mãe a obrigava a usar.
Mas
logo ao desfazer a primeira curvinha, a menina esquecia o vestido e ficava
presa, ao voo dos pardais, às cores das florinhas que aconteciam nos muros e
nas pedras do caminho.
Sempre
tivera especial predileção por estas, que acontecem em lugares inesperados e
quase impossíveis. Flores que voam, sabe-se lá de onde para perfumar lugares e
caminhos. Como o rosmaninho. Tão deliciosamente perfumado. Adorava embrulhar-se-lhe
no cheiro e pensava, que bom devia ser, dormir numa cama de rosmaninho e
acordar mais perfumada que a manhã. Cumprimentando, os bichinhos de conta, as
borboletas, os caracóis, as joaninhas… E todas as outras flores.
Na
segunda curvinha, espreitava o lago e o jardim do palacete já em ruínas.
Debruçada
sobre os olhos tristes dos peixes, tentava descobrir o fundo ao lago, talvez houvesse
nele uma passagem secreta para um lugar, uma ilha, onde os peixes fossem
felizes…
Do
jardim, agora entregue ao passar do tempo. Restavam anjinhos desgrenhados com
sorrisos de meninos esculpidos nos arbustos. Flores exóticas e raras,
misturadas com as silvestres e ervas daninhas. Que mistério encerraria aquele
jardim? Quem se teria passeado nele? Quem teria alimentado de felicidade os
olhos dos peixes do lago? Que bom devia ter sido, ficar por ali a desfiar
silêncios…
E quem teria morado na casa enorme que agora
se desfazia em montinhos de pedras pintadas, que ajudavam a colorir o caminho?!
A
menina adorava aqueles mistérios e os seus olhinhos de perguntar nunca se
cansavam. Mas teria de apressar-se para a terceira curvinha.
Eis
que aparecia a curvinha da escola. A curvinha com porta. Onde o mistério e
encanto eram palavras quase proibidas. Onde, os pardais, as borboletas, as joaninhas,
as florinhas e os bichinhos de conta não contavam para nada.
Mas
a menina sabia, que às vezes é tão bom ser bichinho de conta e ficar
enroscadinha no quentinho da terra sem ninguém a aborrecer-nos.
A
escola vale o que vale, mas todo o encanto estava nas outras curvas do caminho…
Nas
manhãs, em que sentindo-se flor voava nos braços do vento e pousava na beira do
lago do velho e misterioso palacete.