Desde que a casa dos
Avós deixara de ser grande que passava o Natal na praia.
Por dentro a casa
fervilhava em Natal. Mas a praia estava maravilhosamente deserta como noutras
manhãs de dezembro. E hoje o céu resolvera embrulhá-la em azul luminoso.
Aninhou-se na areia e
pensou como lhe agradava que por ali não houvesse nenhum vestígio de Natal! Era
como se este tivesse levado um empurrão do vento ou uma bicada de gaivota e não
se atrevesse a pôr ali os pés. Aliás, o que importava às gaivotas que fosse
Natal no calendário?!
Desde que pudessem
escolher livremente um cantinho de mar, subir ao alto das rochas, planar sobre
o azul…
A qual preocuparia
dizer só hoje aos amigos que gosta deles, que lhes sente a falta, usando SMS ou
correio electrónico repetido e desprovido de emoções?!
A qual preocuparia ter
uma mesa farta em inutilidades que só conseguem comer com os olhos?!
As gaivotas sabem que
entre elas não são todas iguais!
É verdade, não lhe
apetecia Natal. Mas não conseguiu abandonar a praia sem deixar na areia uma árvore
de conchas encimada de estrela-do-mar.
Depois correu em direção a casa para
escrever abraços em postais de Natal com gaivotas.