quinta-feira, 16 de junho de 2011

O relatório que ninguém vai ler


Sempre que me vêem a escrever os meninos perguntam se estou a escrever um “ralatório”.

E nunca a palavra inventada foi tão bem empregue, é que os ditos cujos são efectivamente uma ralação e a parte muitas vezes dispensável da profissão. Às vezes o sistema pede um relatório do relatório, para nos levar à certa muda-lhe o nome e chama-lhe avaliação do trabalho realizado, e eis que repetimos várias vezes por outras palavras a mesma cantilena.

E está tudo formatado, claro!

De quando em vez, alguém se lembra de fazer umas alterações, afinal fica sempre bem complicar mais um pouco, dá uma certa credibilidade e umas palavras mais eruditas ainda que fora de qualquer contexto educativo, marcam sempre a diferença!

Meus amigos, não há como escapar é que os dossiês ficam tão compostinhos e bonitinhos nas prateleiras de qualquer Direcção Executiva que se preze.

Sempre que tenho de escrever um destes relatórios, escrevo outro que nunca ninguém lê e quando hoje tive de avaliar a evolução ou não dos meus meninos, estive tentada a contar o que aconteceu na realidade!

Tudo aquilo que os meninos me ensinaram e a forma espantosa como continuam a fazer-me crescer…

Longe vão os dias em que desconfiados e orquestrando por vezes em uníssono umas sinfonias para choro e grito, nos fomos tornando amigos, havia até os mais destemidos que por vezes exercitavam os meus dotes de corredora de fundo, quando sem aviso abriam a porta da sala e resolviam procurar os pais!

Eram tão pequeninos, os mais tímidos pareciam a minha sombra.

Todos esperavam a minha ajuda para procurar o lanche, tirar o casaco, apertar e desapertar, enfim, para fazer as coisas que a nós adultos nos parecem tão fáceis mas que foram num tempo longe grandes conquistas.

Eu era a “puxôra Teza Maía”, o Afonso gostava de “Firafas”, (girafas), e às vezes no muro da escola aparecia um “Fafanhoco”, (gafanhoto) …

Hoje os meninos pronunciam correctamente as palavras, sabem palavras novas, mas o importante é que gostam de inventar palavras, de contar histórias, de ouvir histórias, sabem escolher nos livros da biblioteca as suas histórias preferidas e sabem o nome dos que escrevem as suas histórias de eleição.

Decidem sozinhos o que vão fazer, como vão fazer, o que precisam o que é dispensável e sabem que têm de fazer sempre muitas perguntas, e que quando parece que estamos todos de acordo há sempre alguém que viu mais, diferente, e por isso uma coisa nunca é mas está sempre a ser.

Inventaram cores, e descobriram o quão bom é quando entornamos as nossas cores e as misturamos todos juntos…

Pintaram a manta, o infinito…

Desenharam-me sorrisos. Com eles aprendi numa manhã de Inverno a fazer rendinhas de gelo, fiquei a saber, que os peixes do aquário da sala namoram e que gostam da música que ouvimos, pois põem as orelhas fora de água para ouvir melhor!

Que o mar se pode transportar numa galocha! Que podemos inundar a sala de azul de mar de céu, de amar!

Que podemos navegar sem barco, sem mapas, sem margens e sempre que decidirmos, podemos ficar à margem…

Confesso, obriguei-os a serem felizes e obriguei-me a sê-lo!

Acho que a isso se chama CRESCER! E acho que escrevi quase tudo do que não pode constar de um “ralatório”!

3 comentários:

Rosa Maria disse...

Já li relatórios que são verdadeiros "ralatórios" contudo os seus responsáveis consideram-se donos da sabedoria.Considero que mais do que lutar contra os "ralatórios" seria bom "abanar" primeiro os seus responsáveis.

Anónimo disse...

olá......
Pois!!!!
a Teresa escreve bué...
e a Rosa tem razão.....
IH! IH!....
EU

joanacruz disse...
Este comentário foi removido pelo autor.