E outubro ia entrando pelo meu jardim
que se tornava numa paleta de cores quentes. A contrastar com o friozinho que
pedia xaile nos ombros ao cair da tarde.
A enorme roseira que engalanava a
porta principal da casa ficava durante outubro completamente desgrenhada! O
vento e as primeiras chuvas encarregavam-se de colocar aos pés desta as pétalas
que dantes a perfumavam e lhe enfeitavam as folhas e os ramos.
Outubro não era um mês bom para as
rosas.
Agora floriam fulgurosas as dálias. E
num pedacinho de canteiro ao pé do lago, uma braçada de malmequeres amarelos
fazia brilhar o sol nos dias em que o cinza do céu cobria o jardim.
Também pelo lago dentro entrava outubro.
É certo que nele continuavam a nadar sem pressas os peixinhos que outrora me
tinham colorido a infância… Mas dos nenúfares só restavam as folhas e não se
viam por ali as libelinhas que no verão faziam aparecer no lago o arco-íris.
Despidos iam ficando os plátanos,
cujas folhas num outubro longe usara para inventar vestidos de bonecas com
corpo de papel que guardava religiosamente em caixinhas no fundo do armário e
com as quais desenhava mil histórias.
Outubro vestia ainda de ouriços os
enormes castanheiros onde adorava subir para ficar simplesmente a baloiçar as
pernas e a olhar o enorme nada que se estendia em meu redor.
Já cá em baixo, admirava os dióspiros
cuja doçura dividia com os pássaros e caminhando na relva salpicada de folhas
coloridas pensava, como era bom morar num jardim onde outubro se passeia.