Mostrar mensagens com a etiqueta Poetas e poemas que eu gosto. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Poetas e poemas que eu gosto. Mostrar todas as mensagens

domingo, 27 de janeiro de 2019

Silêncio





Uma ervinha
Sussurra poemas
A quem
Por instantes
Junto dela
Se detém, ajoelha
E contempla
O silêncio

Gilles Brulet

sábado, 30 de julho de 2016

HISTÓRIA DA MENINA LOUCA





Procuraram toda a casa, toda a terra,
Ninguém a achava.
Ela estava no telhado atrás da chaminé.
Olhava as estrelas e cantava.
Estava tão feliz e sossegada!
Olhava as estrelas e cantava.
Meu Deus, está louca!
Vamos levá-la.
Estava tão feliz!
Olhava as estrelas e cantava...
Falas-me em asas,
Em voar...
Não vês que eu não sou nada,
Nem anjo nem pessoa,
Nem ave nem engenho,
Que é totalmente outra a minha definição?
Eu não sou mais do que o próprio chão...
A minha vida é poética:
Paira entre a vaga mentira e a realidade.
O amor me acontece
Como as folhas às árvores,
E tão singularmente,
Que já nem sei se é natural à árvore ter folhas
Ou estar nua...

Ana Hatherly

quinta-feira, 23 de junho de 2016

A MANHÃ





Em manhã de S. João
Andava a menina a brincar
Com colarzinho de orvalho
Capelinhas de Luar

Andava a brincar a menina
E ela a brincar cantava
As águas do rio corriam
E a manhã acordava

Era manhã orvalhada
E toda a terra floria
Cravos de cor encarnada
Rosas de rosa bravia

Era manhã orvalhada
Do dia de S. João
Nos ninhos aves cantavam
Cantavam grilos no chão

Andava a menina a cantar
Acordada do seu sono
E para de perto a escutar
S. João desceu do trono



                                      Matilde Rosa Araújo

sábado, 2 de janeiro de 2016

DIZEM QUE AS PLANTAS NÃO FALAM...





Dicen que no hablan las plantas, ni las fuentes, ni los pájaros,
Ni el onda con sus rumores, ni con su brillo los astros,
Lo dicen, pero no es cierto, pues siempre cuando yo paso,
De mí murmuran y exclaman:
Ahí va la loca soñando
Con la eterna primavera de la vida y de los campos,
Y ya bien pronto, bien pronto, tendrá los cabellos canos,
Y ve temblando, aterida, que cubre la escarcha el prado.

Hay canas en mi cabeza, hay en los prados escarcha,
Mas yo prosigo soñando, pobre, incurable sonámbula,
Con la eterna primavera de la vida que se apaga
Y la perenne frescura de los campos y las almas,
Aunque los unos se agostan y aunque las otras se abrasan.

Astros y fuentes y flores, no murmuréis de mis sueños,
Sin ellos, ¿cómo admiraros ni cómo vivir sin ellos?

                                                                  Rosalia de Castro

domingo, 20 de setembro de 2015

BRINCA ENQUANTO SOUBERES!





Brinca enquanto souberes!

Tudo o que é bom e belo

Se desaprende…

A vida compra e vende 

A perdição.

Alheado e feliz,

Brinca no mundo da imaginação,

Que nenhum outro mundo contradiz!


Brinca instintivamente

Como um bicho!

Fura os olhos do tempo,

E à volta do seu pasmo alvar,

De cabra-cega tonta,

A saltar e a correr,

Desafronta 

O adulto que hás-de ser!

   
                                                          Miguel Torga