sexta-feira, 25 de abril de 2014

UM TESOURO CHAMADO LIBERDADE





(…)  
    
Contavam-lhes que o povo daquele país tivera um dia um imenso e belo tesouro e que alguém lho roubara. E que era um tesouro tão grande e tão valioso que, sem ele, não podiam ser felizes.

- Um tesouro? – perguntavam os visitantes muito surpreendidos.

- Sim, um tesouro… A Liberdade.

(…)

Então explicavam-lhes: naquele país as pessoas não podiam fazer o que queriam, nem podiam dizer o que pensavam ou o que sentiam, nem, como eles, partir e visitar outros países e conhecer outros povos, viviam fechadas no seu país como se ele fosse uma prisão. Nem sequer podiam contar um segredo a ninguém, porque seriam presas, ou até mortas.

- Mas isso deve ser uma grande infelicidade! – diziam os visitantes.

- Não admira que vocês estejam sempre tão tristes!

(…)

Até que um dia chegou em que, no País das Pessoas Tristes, as pessoas decidiram reconquistar o seu tesouro. Os soldados reuniram-se nos quartéis e pegaram nas suas armas para arrancar finalmente o tesouro das mãos dos ladrões. E toda a gente saiu alvoraçadamente para a rua e acompanhou os soldados, cantando e gritando: “ Viva a liberdade! Viva a liberdade! “

Os corações exultaram de alegria e as janelas encheram-se de bandeiras e cravos vermelhos: os soldados puseram cravos vermelhos nas espingardas… (…)

Todo o país se transformou numa grande festa, ruidosa e transbordante…

(…)

Esse país agora já não se chama País das Pessoas Tristes, chama-se Portugal e é o teu país. E o tesouro pertence-te a ti, és tu agora que tens de cuidar dele, guarda-o muito bem no fundo do teu coração para que ninguém to roube outra vez.

Porque esta história não é uma história inventada. É uma história verdadeira, aconteceu mesmo.


  O TESOURO, Manuel António Pina

     " Nós a dançar o 25 de abril " - Desenhos e Título, Isabel Rio

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