quarta-feira, 27 de abril de 2011

Coisas que não mudam à nossa volta



Sempre que regressava à escola depois das férias, Dona Regina a minha professora depois de Dona Laura, pedia que escrevêssemos sobre o que tínhamos feito, o que tínhamos gostado mais ou não…

Devo dizer que considerava tal pedido desprovido de imaginação e até um acto de pura coscuvilhice. Lembro que fiquei até sem recreio durante uns tempos porque num desses escritos confessei ingenuamente, que o mais aborrecido das férias tinham sido os trabalhos de casa, dez cópias, escrever vinte vezes as tabuadas, outras tantas vezes os verbos e mais umas tantas tarefas sem préstimo. Aprendi naquela altura que a sinceridade tem custos!

Dona Regina ficou indignadíssima com a minha rebeldia, chegou a perguntar-me que trabalhos de casa sugeria eu, mas antes que tivesse tido tempo de responder-lhe fez valer a sua autoridade e talvez com receio de outras sublevações tirou-me o recreio!

Volvidos estes anos, penso que ainda bem que Dona Regina não me deu tempo de sugerir outros trabalhos de casa, ela nunca iria entender-me e o meu castigo quadruplaria!

Como iria ela entender que as férias são óptimas para ficar quietinha a ser. Que os melhores trabalhos são: muito baloiço, muitos passeios nas nuvens, muitas árvores para trepar, muitos livros para ler, muitos castelos no ar para fazer… NÃO, EU NUNCA IRIA CONSEGUIR QUE DONA REGINA ME ENTENDESSE.

Sem surpresa verifico que Dona Regina, ficaria feliz por saber que hoje em pleno séc. XXI, persistem os fervorosos adeptos dos seus trabalhos de casa e das suas composições pós férias.

Trabalhos rotineiros sem margem para exercitar a imaginação, trabalhos que não fazem voar, não deixam sonhar e não ajudam a crescer.

Ontem quando regressamos à escola pedi aos meninos que contassem o que não fizeram nas férias!

8 comentários:

Anónimo disse...

AH! AH! AH!

Acertas sempre!!!!!!

NA VERDADE com ""boa escrita""

EU

xn disse...

Penso que vou citar bem:
"Formidável!" (escrito a verde)

xn disse...

Tu simplesmente, não existes!
Tenho muita pena de não haver mais tempo para convivermos, tu és fantástica!
Fazes-me sentir aliviada!!!
Que "sozinha" me sinto por muita vezes dizer:
- O trabalho de casa é brincar, estar com a família...

Marta Vasil (pseud.de Rita Carrapato) disse...

Teresa

Foi óptimo trazer este assunto aqui. Merecia ser lido por mais gente e ser comentado até “fazer fumo” .
Concordo em parte com a Teresa. Ao longo da minha carreira de professora adoptei posturas diferentes consoantes alunos e pais. Devo confessar que sou apologista dos TPC. Usei-os quase sempre. Explicados os motivos e com o aval dos pais, usava-os como estratégias, que nem sempre serviam o mesmo fim. De vez em quando eram um bocadinho tradicionais, outras vezes, eram livres (os meninos escolhiam o que queriam fazer), outras vezes eram trabalhos plásticos, outras vezes, os meninos inscreviam-se numa lista de propostas que eu apresentava, outras vezes, eram trabalhos propostos por um aluno da turma…
O balanço foi normalmente positivo e, muitas vezes, os meninos faziam trabalhos para além daquilo que se combinava. Muitas vezes, e no caso de alguns meninos, o momento dos TPC eram quase os únicos que eles partilhavam com os pais: quando o TPC era ler para eles, pesquisar e trazer material de apoio às aulas, fazer (durante o tempo combinado) um pequeno projecto, escreverem poesia, colaborarem numa história…
Muitas vezes depois das férias perguntava-lhes o que mais tinham gostado de fazer e o que desejariam ter feito, mas pedir-lhe que escrevessem sobre o que não tinham feito, nunca o fiz. E vejo agora que iria ser uma escrita de sabor muito bom, um sabor sem barreiras.

Um beijinho e muito obrigada por tão preciosa publicação

Teresa disse...

Marta,

Eu serei sempre contra os TPC! (Trabalhos Pouco Criativos)

Seja porque ponta lhe pegue não consigo descobrir-lhes préstimo!

Não foi por escrever os verbos repetidamente que sou melhor a gramática. Detesto-a!

A minha facilidade de expressão não vem do facto de ter escrito vezes sem conta a mesma frase.

E o gosto pela leitura, não foi de ler certamente os textos insípidos e até despropositados de alguns manuais que só são adoptados porque trazem a papa feita aos docentes que os escolhem!

Já vi trabalhos de casa que não são corrigidos, e posso dizer sistematicamente porque nalguns casos o exagero é tanto que nem o cristão que os marcou aguenta!

Há ainda os trabalhos que são fichas cujos problemas não têm solução.

Em suma na maioria dos casos, os trabalhos de casa mais não são do que o prolongar da incompetência da sala de aula!

Teresa disse...

Todos sabemos que não se escreve quando se quer, que a poesia é coisa séria, forçar não vale e serve de pouco.

Um professor tem só de sugerir TCA (Trabalhos de Curiosidade Acrescida).

O sistema é poderoso, mas podemos sempre contorná-lo em vez de nos deixarmos enrodilhar!

Beijinhos.

Anónimo disse...

Olá

PUBLICA POR FAVOR...não nesta tua página, mas sim no Expresso desta semana!!!!!!!
MERECE ser lida por todos: Profs., pais e criançada pequena e grande!
EU

joanacruz disse...

Fantástico!!!