domingo, 7 de março de 2010

"As coisas que não existem são mais bonitas"




VII

No descomeço era o verbo.

Só depois é que veio o delírio do verbo

O delírio do verbo estava no começo, lá onde a

criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.

A criança não sabe que o verbo escutar não funciona

para cor, mas para som.

Então se a criança muda a função de um verbo, ele

delira.

E pois.

Em poesia que é voz de poeta, que é a voz de fazer

nascimentos ___

O verbo tem que pegar delírio.

Manoel de Barros

In “O Livro das Ignorãças”



3 comentários:

beijinhos do mar disse...

Sem palavras para descrever o sentimento que "aparece" no meu coração quando leio as tuas mensagens,continuas a "dizer" no momento certo e na hora certa.
lindo!!!!!!!!bx
Ups! e o que não se vê?????????è bonito ou feio??????????Diz-me EDUCADORA.!!??

Anónimo disse...

Só grandes artistas conseguem fazer delirar o "verbo"!
Os outros, os medíocres conseguem a impostura do verbo, do olhar, dos sentidos, enfim.
Lindissimo este texto! Não conhecia este poeta, mas vou passar a conhecer!
Obrigado, cara colega.

Teresa disse...

Caro(a)colega,

Que bom que tenha deixado contagiar-se pela incomparável e original poesia de Manoel de Barros.
Em português, mas nada fácil de encontrar em Portugal.Com muita pena minha, só possuo dois livros do poeta,O Livro Das Ignorãças, e a Gramática Expositiva do Chão.Sei que o ano passado ganhou o prémio Sophia De Mello Breyner Andresen, para a melhor Antologia Poética,sobre a obra,Compêndio Para Uso dos Pássaros. Antologia publicada pela Quasi, mas que não consegue encontrar-se em Portugal.
Quanto aos impostores do verbo,confesso não ter tempo para eles.
Tanto mais, que felizmente em português,há vários poetas a conseguir o delírio do verbo!