( Robert Doisneau )
Lembro que quando
muito menina, ainda antes de entrar para a escola. Do jardim de casa via uma
outra casa, de paredes muito brancas e um telhadinho de onde uma chaminé
retorcida, deixava sair novelinhos de fumo que o vento se divertia a engolir…
Mas o que mais me
encantava naquela casinha, era a sineta presa no enorme portão de ferro verde.
Bom, eu era muito pequena, nunca tinha entrado naquela casa, mas imaginava que
devia ser um lugar onde todos gostavam muito de ir… Mal a sineta tocava, os
meninos corriam felizes à procura da porta da casa, era como se entrassem num
lugar mágico. Pois durante algum tempo não se ouvia mais nada. Quer dizer, ouviam-se
os pássaros, que poisavam aqui e ali, as pessoas que passavam cá fora e se
cumprimentavam, o padeiro que entregava o pão…
Depois, pela mesma portinha,
voltavam a sair muitos meninos, cheios de sorrisos, a correr, a cantar…
Aquela tinha de ser
uma casa maravilhosa!
Eu queria muito entrar
naquela casa, que a minha mãe disse, chamar-se escola, mas para isso, eu tinha
de crescer… Assim, como o meu primo Zé Luís, que costumava puxar-me as tranças
e chamar-me dentes de coelho!
E o dia de entrar na
casinha maravilhosa, chegou!
E naquela que deve ter
sido uma bela manhã, passei de mão dada com a minha mãe o portão de ferro verde
e ao som da sineta, entrei, mais uns quantos meninos e meninas pela porta
mágica!
Lá dentro, havia umas
mesas castanhas com a cadeira agarrada, que davam para sentar aos pares… Um
estrado com a mesa da professora, um quadro enorme preto que cobria toda a
parede e tinha de cada um dos lados, um retrato a preto e branco de dois
senhores que não pareciam nada contentes… No meio, havia uma cruz…
- Bom dia! Pequenos
sóis! Aqui neste lugar maravilhoso, vamos ser todos muito felizes!
Ao ouvir Dona Laura,
este era o nome da minha professora, eu tive a certeza de ter entrado no melhor
lugar do mundo…
Dona Laura, era assim
como uma fada que eu ouvira das muitas histórias que a avó me contara, parecia
como um raio de luz a pousar de menino em menino… De voz doce, de infinita
paciência, sempre encantada e a sorrir…
Na escola de Dona
Laura, aprendi, quase tudo o que a escola tem para ensinar…
Mas aprendi sobretudo,
que a escola tem de se um lugar de encantos e espantos…
Talvez Dona Laura
gostasse de saber, que passados tantos anos, ainda me lembro dos malmequeres
amarelos que brilhavam como pequenos sóis na jarra pintada da sua mesa… E que a
escola ainda é um lugar onde gosto de ir!