Os dias sem poesia
afastam-me de ti: como o céu
quando abre uma fenda
e deixa verter a eternidade
sobre o inverno do
mundo. Amo a lua das crianças,
amo as salinas
abandonadas do teu passar
e todos os venenos
divinos do amor: a alma
liquefeita dos mitos
derramada na planície
do esquecimento.
Quero que os meus
versos sejam roupa a secar ao sol
entre duas janelas,
coisas de uso que se lavam
cada semana até não
poderem lavar-se mais. A poesia
não é cosa mentale
[isso é a pintura, disse Leonardo]
é coisa de estender no
arame com a humidade efémera
de um beijo que seca
enquanto se vai ao trabalho e
se recolhe num braçado
ao regressar
Nuno Higino
2 comentários:
Tão bonito! Gostei imenso.
Beijinhos
Há poemas que nos leem.
Um beijo
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