quinta-feira, 29 de julho de 2010

GACELA DEL AMOR DESESPERADO

Um belíssimo Lorca, por uma não menos bela voz de Amancio Prada



La noche no quiere venir
para que tú no vengas
ni yo pueda ir.


Pero yo iré
aunque un sol de alacranes me coma la sien.
Pero tú vendrás
con la lengua quemada por la lluvia de sal.


El día no quiere venir

para que tú no vengas
ni yo pueda ir.


Pero yo iré

entregando a los sapos mi mordido clavel.
Pero tú vendrás
por las turbias cloacas de la oscuridad.


Ni la noche ni el día quieren venir

para que por ti muera
y tú mueras por mí.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Cartas




Sempre gostei de receber e escrever cartas.
Daquelas que chegam pela manhã com envelope, onde está escrito, o remetente, o destinatário e têm selo e tudo! Ah, não sabem do que falo? É natural, hoje tirando as cartas que vejo os meninos escrever ao Pai Natal, que segundo consta é o único que continua a receber montes delas, que se saiba não porque se recuse a aderir às novas tecnologias, mas porque os meninos acreditam, que só escrevendo uma carta os seus pedidos serão atendidos. Hoje não se escrevem cartas. Cartas, como as que guardei e reencontrei hoje na gaveta de um armário.
A precisão da caligrafia, o estilo pessoal, o tempo e a dedicação com que eram escritas, fazem claramente, parte do passado.
Hoje quando muito recebemos, cartas dos seguros, da companhia da electricidade, da água… Cartas impessoais e maquinais.
E as outras? As de amor, as ridículas, as que davam conta de estados de alma? As que eram escritas sem corrector ortográfico, consultando apenas o velho dicionário em caso de dúvida?
Todos sabemos como deixamos que fossem substituídas, por formas de comunicação que não deixam rasto, mensagens curtas, rápidas, etéreas.
Como era bom ver chegar o carteiro, com a carta esperada, ou melhor ainda com uma inesperada!

domingo, 25 de julho de 2010

MERGULHAR NA RELVA...



Adoro o Verão.
Dos dias e noites longas. Onde há tempo para ter tempo.
Da casa sempre cheia de gente. Tal e qual como na infância.
São, os primos, as manas, os sobrinhos, os filhos, os amigos, os amigos dos filhos, os amigos dos amigos…Gente e mais gente, que dá vida à casa que durante o resto do ano está quase sempre vazia!
No Verão, a casa ganha vida, como no tempo dos avós. E ninguém se atreve a procurar destino de férias sem passar por cá!
Pedro, o meu sobrinho de quatro anos, fez-me há dias uma pergunta curiosa;
-Tia, o que gostas mais no Verão é da casa da Avó?
Fiquei espantada! Tão bem o pequeno lia minha alma!
Para falar verdade, não sei do que gosto mais neste lugar. Da casa? Das memórias de uma infância e adolescência privilegiadas? Da paz que me invade sempre que aqui estou? Do rio, junto ao qual cresci e que um dia me levou até ao mar? Das árvores, que subi na esperança de conseguir tocar o céu? De olhar o sol a levantar-se por entre as águas do rio, ou a mergulhar nelas ao entardecer? De olhar o céu infinito, ponteado de estrelas? De escutar uma cantata para grilos em noite de lua cheia?
Adoro tudo isto! Mas do que gosto mesmo, é de mergulhar na relva!
O cheirinho a verde misturado com o perfume das várias ervas e flores invade o ar, fixando-se de tal forma na alma, que sentimos como que um desejo irresistível de ficar ali a adorar a natureza!

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O Barquinho





Dia de luz, festa de sol
E o barquinho a deslizar
No macio azul do mar
Tudo é verão, o amor se faz
No barquinho pelo mar
Que desliza sem parar
Sem intenção, nossa canção
Vai saindo desse mar
E o sol
Beija o barco e luz
Dias tão azuis

Volta do mar, desmaia o sol
E o barquinho a deslizar
E a vontade de cantar
Céu tão azul, ilhas do sul
E o barquinho, coração
Deslizando na canção
Tudo isso é paz
Tudo isso traz
Uma calma de verão
E então
O barquinho vai
E a tardinha cai




Nara Leão - O Barquinho

terça-feira, 20 de julho de 2010

O Mar Sobe Ao Céu



O mar sobe ao céu
nas claras manhãs de inverno
soprando um lençol diáfano
de espuma.

O sal vem até nós
com a suave violência
da brancura insuportável.

Hoje é o dia
o momento
a hora inadiável.
Cada dia
é o derradeiro sopro
da flauta da criação.

Vem
por isso
vem
peixe de prata.
Mar de prata.

Tudo é prata
no teu corpo escandaloso
recebendo o beijo lento
desta luz coada
pelos recortes de uma renda grossa
na janela.

José Fanha in Tempo Azul

domingo, 18 de julho de 2010

Perfume marítimo...




Com flores de espuma
é que o mar
se perfuma.

Albano Martins



quinta-feira, 15 de julho de 2010

MARAMAR...MARAMOR...FINAL FELIZ!

Mar de férias que se aproximam, Mar de mim, Vila Chã de pico cá dentro, para sempre!

(Com Música de Christine Sèvres, Jean Ferrat e Marie Laforet)


quarta-feira, 14 de julho de 2010

domingo, 11 de julho de 2010



Lua sobre o mar

Pus-me à noite a ouvir o mar
Que o mar só fala com quem o entende
Com quem o sabe escutar
Com quem o quer desvendar…

Que me dirá o mar?
Aquilo que quero
Ou o que não quero escutar?

Mas se eu só quero o seu silêncio
O seu doce marulhar
Como haverá o mar de me falar?!

Talvez eu possa ser lua sobre o mar
E cair na água como um pássaro!



quinta-feira, 8 de julho de 2010

No Cais


Quando, sobre o morro,

o entardecer se entorna,

mansa, surdina ténue,

magoadamente, a morna


conquista os longes,

perdida vagamente além,

busca de búzio- eco,

búzio que a praia não tem.


E a Menina alheia o coração…


Barcos inesperados na abordagem,

barcos previstos na largada…

Que mistérios levarão, trarão

de ilhas na distância, de coral,

emersas no coração do mar?


O coração da Menina está doente…

Os pássaros

Trazem a noite na canção…


Madura como seara

a alma da Menina

aguarda mão

que a levará plo Tempo,

longamente, além…


… na tranquilidade de saber nada,

à toa, simplesmente à toa,

sem olhar a estrada…

Agostinho Gomes in Ilha Verde


terça-feira, 6 de julho de 2010

Matilde


“ Hoje sei que o amor dos outros não se adia”.

“Sabemos todos já, amigos, que há vida e morte. Também isso temos de aprender.

Não fiquem tristes por isso. Vejam como as flores nascem quase transparentes da terra, como as podemos olhar à luz do Sol, e morrem, para de novo nascerem.”

Matilde Rosa Araújo in O Sol e o Menino dos Pés Frios