Infância
Levaram as grades da varanda
por onde a casa se avistava.
As grades de prata.
Levaram a sombra dos limoeiros
por onde rodavam arcos de música
e formigas ruivas.
Levaram a casa de telhado verde
com suas grutas de conchas
e vidraças de flores foscas.
Levaram a dama
e o seu velho piano que tocava,
tocava, tocava a pálida sonata.
Levaram as pálpebras dos antigos sonhos,
deixaram somente a memória
e as lágrimas de agora.
(Cecília Meireles)
SAUDADE
Na areia do Douro, orvalhada de ouro,
menina Olinda, era lindo brincar.
Transparentes peixes, translúcidos seixos
entre os nossos dedos vinham desmaiar.
menina Ondina,
muito longe de nós.
Dentro das figueiras, vozes zombeteiras
armavam espelhos para a nossa voz.
rio sossegado seus largos barris.
Ah, na areia clara quem sempre ficara,
menina Ondina,
pastoreando as ondas, pastora feliz!
menina Ondina!
Pela névoa sem fim,
vinha o carpinteiro,
com brancas madeiras
talhar barcas novas, iguais a marfim.
Neblinas tão vastas, areias tão gastas,
menina Ondina!
E no meu coração
caminhos tão longos para a água dos sonhos,
longos como a areia dourada do chão. . .
menina Ondina,
para o escondido mar.
Levava esquecidas também nossas vidas,
com os peixes, os seixos e as coisas, divinas
que morrem sem se acabar. . .
Levaram as grades da varanda
por onde a casa se avistava.
As grades de prata.
Levaram a sombra dos limoeiros
por onde rodavam arcos de música
e formigas ruivas.
Levaram a casa de telhado verde
com suas grutas de conchas
e vidraças de flores foscas.
Levaram a dama
e o seu velho piano que tocava,
tocava, tocava a pálida sonata.
Levaram as pálpebras dos antigos sonhos,
deixaram somente a memória
e as lágrimas de agora.
(Cecília Meireles)
SAUDADE
Na areia do Douro, orvalhada de ouro,
menina Olinda, era lindo brincar.
Transparentes peixes, translúcidos seixos
entre os nossos dedos vinham desmaiar.
menina Ondina,
muito longe de nós.
Dentro das figueiras, vozes zombeteiras
armavam espelhos para a nossa voz.
rio sossegado seus largos barris.
Ah, na areia clara quem sempre ficara,
menina Ondina,
pastoreando as ondas, pastora feliz!
menina Ondina!
Pela névoa sem fim,
vinha o carpinteiro,
com brancas madeiras
talhar barcas novas, iguais a marfim.
Neblinas tão vastas, areias tão gastas,
menina Ondina!
E no meu coração
caminhos tão longos para a água dos sonhos,
longos como a areia dourada do chão. . .
menina Ondina,
para o escondido mar.
Levava esquecidas também nossas vidas,
com os peixes, os seixos e as coisas, divinas
que morrem sem se acabar. . .
1 comentário:
"deixaram somente a memória
e as lágrimas de agora."
Mas isso é tão bom, tão enternecedor, tão bom chorar assim. Maravilhosa Cecília,Dourado Douro, magnífico gosto o seu!
Parabéns, colega!
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