Raquel |
Recordo o dia em que Ana, a colega do ensino especial que me apoia na sala, referiu o facto de em todas as salas por onde passava já ser outono menos na minha.
Em verdade, só não era outono ainda na sala embora já o fosse oficialmente no calendário, porque ninguém ainda o tinha trazido para dentro da sala…
Às vezes tenho alguma dificuldade em que os outros entendam que há rotinas perfeitamente desnecessárias. Por que razão há-de ser outono dentro da sala se ainda ninguém sentiu o outono? Ele haveria de chegar sem pressas e sempre na altura certa. Aquela em que todos desejássemos que assim fosse.
Já com a primavera foi diferente. Acho mesmo que esta nunca saiu da sala. Talvez porque também nunca chegou a desinstalar-se verdadeiramente no exterior. Por todos os cantos do jardim da escola houve todo o inverno, cheiros e flores de primavera. O céu de inverno esteve sempre azul e o sol quase nunca conseguiu esconder-se por entre as nuvens.
E foi numa destas manhãs, embora no calendário ainda não fosse primavera. Que a Rita durante o recreio se pôs a explicar aos colegas porque já tinha esta chegado!
Apontando os rebentos novos dos arbustos do jardim, dizia aos amigos que tal só acontecia por ser primavera. O grupo ouvia-a com atenção e descobria no muro pequenos bichinhos que pareciam também felizes por ser primavera!
Foi então que os meninos pediram para desenhar a primavera. E queriam fazê-lo ali mesmo no jardim…
Eu limitei-me a observá-los e a ouvir o que diziam. Se há coisa que aprendi com os meninos é que quando conversam só devo falar quando a conversa é mesmo comigo! É que aprendo tantas coisas quando estou só a ouvi-los!
A Margarida teve algumas dificuldades em segurar a folha onde desenhava, foi divertido vê-la correr atrás da folha que o vento resolveu “pôr a voar”! Descobrindo assim a leveza da folha e a intensidade do vento!
- Tens de segurá-la com força! Sugeriu o Afonso.
Uma formiguinha resolveu fazer cócegas no desenho do Rodrigo e por momentos toda a turma seguiu os seus passos até que saiu da folha e lá foi à sua vida.
Estava entretida a olhá-los, quando ouvi o Edgar perguntar:
- Como se desenham os perfumes e o calor da primavera?
Rapidamente, quase sem se fazer esperar a Raquel deu a resposta.
- Desenhas flores no ar e pintas o sol com muita cor de laranja!
Não tive a mínima dúvida, a primavera tinha mesmo chegado!
5 comentários:
Também eu partilho momentos maravilhosos com os meus filhos. Contudo, gostaria de fazer parte desse seu grupinho maravilhoso e enterder-me nesse chão consigo e as suas crianças.
Quão sortuda é!
Sortuda por ser quem é e como é!!!
Quão sortuda é!
Sortuda por ser quem é e como é!
A forma como cativa os meninos e os leva pelos caminhos do imaginário é impressionante.
Parabéns!!!
Ana,
Sabe que concordo consigo!Sou mesmo sortuda.Afinal em quantas profissões é possível observar os bichinhos da relva, do muro, estendermo-nos no chão...E sempre em companhia interessante?
Quanto ao fazer parte do grupinho,é só aparecer!Por aqui gostamos de partilhar, leituras, bichinhos... enfim, coisas que só alguns de nós entendemos!
Ficamos à sua espera!
Belíssimo registo!
As crianças são a primavera em nós.
L.B.
Teresa
Por aqui andei poisando de publicação em publicação, ora "arranjando ora desarranjando" o peito. E tudo isto porque me voam coisas sem fim cá bem dentro. Coisas dos meus meninos que já não sendo, ainda o são. Ou talvez o sejam sempre porque a memória é um sótão inderrubável de afectos.
"COMO SE DESENHAM OS PERFUMES E O CALOR DA PRIMAVERA?" - Vou levar comigo, para partilhar no meu blogue. Quem sabe se não serão muitos os desenhos do perfume e do calor da Primavera por aí a surgirem?
Beijinho. É tão bom vir aqui, Teresa.
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