A
Avó já estava vestida de domingo e terminando o pequeno-almoço comunicava ao
Avô a sua intenção de ir à missa. A Avó desejava que o Avô a acompanhasse, mas
este nunca o fazia. Ouvia-o sempre argumentar, que não precisava de procurar
Deus na igreja, o seu Deus todo-poderoso, morava no quintal. Via-o por entre as
videiras, as flores, a cerejeira, o pessegueiro…
Segundo
o Avô António, Deus não gostava de espaços fechados e maravilhava-se tanto
quanto ele, com as transformações que a natureza operava no seu quintal.
Que
Deus não apreciaria passar uma manhã de domingo, ouvindo as águas do pequeno
ribeiro que passava ao fundo do quintal. Ver os saltinhos da água afagando as
pedras, numa música original e harmoniosa que só podia ser ouvida ali mesmo, no
quintal do avô. No ribeiro, costumavam ainda namorar libelinhas e em noites de
verão ouviam-se concertos de rãs. Eram tão afinadinhas as rãs do ribeiro… Lembra-se
de tantas vezes-lhe terem embalado o sono. E provavelmente também ao Deus do
quintal.
E
como era bom ver a manhã chegar ao quintal. O sol infiltrava-se pelo imenso
emaranhado de videiras e árvores de fruto, iluminando-lhes as folhas e os
troncos e enchendo tudo de espanto. E quando o sol expulsava definitivamente o
frio da noite, apareciam pássaros deslizando pelos céus em enorme chilreada.
No
quintal do Avô António, não morava nenhum espantalho. O Avô queria os pássaros
nas árvores e não se importava se estes debicavam as cerejas, as ameixas, os
figos… Achava graça às lesmas e caracóis que vestiam de rendas as couves e as
alfaces e adorava descansar os olhos nas filas de flores coloridas que
pontilhavam os canteiros, tal qual o deus que lhe venerava o quintal.
1 comentário:
Tive um avô assim
incomensurável
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