No meio do mar havia um
palácio onde morava uma Rainha.
A Rainha das conchas e
conchinhas como era conhecida, pois não havia dia em que não fosse vista na
beirada catando conchas, conchinhas e até pedrinhas.
Logo pela manhã e não
eram raros os dias em que gostava de surpreender o sol, a Rainha abria a janela
do seu palácio, aquela que ficava bem no meio do mar, e para os que acham que é
difícil encontrar o meio ao mar, posso dizer que era aquela janela que não
ficava nem à direita nem à esquerda, era mesmo, mesmo no meio… Aquela onde se
pode ver o mar todo, todinho!
A Rainha abria a janela
para respirar e beber o mar, gostava dele agitado e com muita espuma,
salpicando-lhe o rosto e perfumando-lhe a pele…
Aproveitava ainda
aquela hora para soltar alguns dos seus sonhos que eram muitos ao vento. Este
em troca contava-lhe os segredos que ia ouvindo daqui e dali…
Então a Rainha descia à
praia. Saltava nas ondas, corria na areia até chegar ao mar de conchas onde
mergulhava tempos infinitos e onde tudo o resto deixava de ter importância. Ali
estava ela, ela e as suas preciosas conchas. Bom, na verdade, nem as conchas
eram só suas, nem estas eram assim tão preciosas. Mas a ser verdade que as
conchas da beirada são de toda a gente, ela não se lembrava de ter visto em
toda a praia alguém que não fosse ela, acocorado selecionando conchas,
conchinhas e pedrinhas!
Agora levava consigo só as mais raras, as de cores
diferentes, acabava sempre por levar para o palácio mais do que a conta. Se lhe
perguntassem quantas conchas tinha no seu palácio não saberia responder.
Definitivamente tinha-lhes perdido a conta. Tinha-as de todos os tamanhos,
formatos, cores, texturas. Guardava-as com ternura em caixinhas, que abria
sempre que o mar não a deixava descer à praia ou simplesmente porque lhe
apetecia adornar os cabelos de beijinhos, colocar um cinto de caracóis do mar
no vestido, um colar de búzios… Uma vez fez até uns sapatinhos com conchas de
mexilhão e cordões de algas, ficaram lindos! Pena que tivessem deixado de
servir-lhe…
Mas tinha tudo guardado
em caixinhas, caixinhas que empilhava nas estantes juntas aos livros.
Conchinhas e livros.
Eram os bens mais preciosos da Rainha. Aqueles que não trocaria por nada, e que
guardava na caixa forte do seu coração!
Caixas e páginas de
insignificâncias que faziam dela uma Rainha Feliz!
4 comentários:
"..., nem as conchas eram só suas, nem estas eram assim tão preciosas."
...
- Tudo o que escreve é preciosíssimo!
"...uma Rainha feliz!"
- Uma escritora esplêndida!
- A teresa é admirável!
- Sublime!
Passei para dizer-lhe que a sua escrita me encanta...e também para lhe desejar a si e a todo a sua familia uma Boa Páscoa!
Beijinhos da Matilde e meus também.
Minhas amigas,
Agradeço as vossas palavras.
Mas tenho de dizer-vos mais uma vez, que o meu ofício não é definitivamente o da escrita!
Já aqui disse que escrevo porque isso me faz sentir bem e não porque o faço bem!
Acho que sou uma esplêndida leitora! Leio sempre e muito. E às vezes acho que falo pouco dos livros que leio...
Mas ler serve também para que tenhamos a consciência do que é escrever realmente! E por ter essa consciência sei que a minha, e vou ter a ousadia de chamar-lhe escrita , fica só um nadinha favorecida pelos vocábulos maravilhosos e imensos da nossa língua!Tudo o resto é simplesmente vulgar!
Confesso que adoro partilhar a minha prática de sala de aula!
Tenho um orgulho imenso ao fim de quase trinta anos de serviço, que o encantamento seja igualzinho aquele em que quando pisei a sala de aula pela primeira vez!
E acho que aí a minha escrita pode ser útil. A escola precisa de testemunhos de encantamento e sem falsa modéstia,adoro escrever sobre as minhas aventuras na sala de aula, se elas ajudarem alguém a encantar-se, tanto melhor!
Beijinhos e boa Páscoa também!
Queridinha,
Não achas que quando várias pessoas pensam o mesmo acerca da tua escrita,devias ter isso em conta?
Quanto à paixão pela profissão eu sei que ela é mesmo desmedida! Trabalhar contigo é um verdadeiro privilégio! Sempre encantada com tudo, nunca se cansa e está sempre a inventar! Bem, esqueci-me que tens pouca paciência para os desencantados, os da vida e da profissão, como costumas dizer. E acho que fazes bem. Pró diabo com eles!
Beijinhos.
É um encanto ser tua amiga!
Júlia
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