(Joan Miró)
Há já alguns dias que reparava que depois do toque de saída Cláudio se mantinha na sala de aula por mais tempo. Percebeu que o pequeno queria dizer-lhe algo mas cada vez que se preparava para perguntar-lhe, se tinha alguma dúvida se alguma coisa o preocupava, este saía num apressado: - Até amanhã professora. Mas hoje quando fechava a porta da sala foi surpreendida por uma vozinha que entre o envergonhado e o decidido, dizia:
-Professora, queria pedir-lhe uma coisa, é uma coisa que pode demorar algum tempo…
Pensou tratar-se de alguma dúvida relacionada com a matéria, mas o pequeno apressou-se a esclarecer; queria ajuda para escrever uma carta… uma carta de amor.
Disse ter pensado pedir ajuda ao irmão mais velho mas este rir-se-ia dele, diria que isso de cartas de amor é coisas de meninas… o pai e a mãe andavam sempre tão ocupados que não tinha coragem de pedir-lhes, ela sim, era quem podia ajudá-lo, além disso não conhecia ninguém que como ela soubesse tantas palavras e tinha ouvido dizer que para escrever cartas é preciso conhecer muitas palavras.
Olhou-o comovida e pensou há quanto tempo ela não escrevia uma carta e ainda há mais tempo, uma carta de amor!
Interrompendo os seus pensamentos, o menino tirou do bolso um pequeno pedaço de papel onde desenhara um coração e bordara a letra miúda uma simples frase, Gosto de Ti.
Sorriu, à sua frente tinha a mais bela e objectiva carta de amor que alguma vez lera. Ela não escreveria melhor, provavelmente usaria mais palavras, perder-se-ia com palavras, demoraria com as palavras e teria esquecido que na simplicidade das palavras se dizem as maiores coisas.
Difícil foi convencer Cláudio que não precisava de ajuda para escrever a carta, que sozinho tinha escrito a mais bela carta de amor.
3 comentários:
Cara colega:
Gastamos tanto as palavras...nós os adultos! Os adultos usam muitas vezes as palavras em "palavreado" sem nexo, sem sumo, sem luz.
Olhe as nossas reuniões de escola...onde a serenidade de um gosto de ti,é substituída antes pelo bla, bla, bla, que leva a um z..., z..., z..., ruído, triste atonalidade docente.
Era tão preciso retornar à simplicidade das crianças, às suas cartas de ensinamento da arte de falar pelo sentir.
Mais um belo Texto, cara Colega Teresa.Olhe...em estilo Carta : os poucos que aqui bem respirar Gostam de Si, desse alinhamento sensível do coração com os passos-palavras que escreve.
Bem Haja!
Os meus olhos estão marejados de água,...
Obrigada, por nos lembrar que o amor é simplesmente belo e simples!
E porque não me quero perder com muitas palavras digo apenas "que grandeza de peito em tão poucas palavras..."
Beijinho
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