Hoje e respeitando a vontade dos adultos da casa limitar-se-ia a ver o mundo da janela. Logo hoje que o Avô não estava em casa, como conseguiria pôr o pé na rua sem ficar de castigo?! E tanto que lhe apetecia sentir o vento no rosto, ouvir a doce canção da chuva…
Pegou no casaco, talvez conseguisse sair sem ninguém dar conta, os adultos estavam sempre muito ocupados nos seus diversos afazeres, ninguém daria pela sua falta!
Adorava embrulhar-se de vento e chuva! Descer até ao rio e ficar ali quietinha… na margem. Acho que tentava ler a alma ao rio. Um dia o Sr. Belmiro, o barqueiro dissera-lhe, que o rio é como as pessoas, tem humores. Às vezes não está para brincadeiras! Podia até ser verdade, mas a única coisa que lhe interessava era o seu estado de alma depois de estar ali. Sereníssima.
De repente lembrou-se que tinha de voltar para casa. Talvez que ficar de castigo fosse já inevitável. Ao entrar em casa deu de caras com a Ana;
-Credo, Menina! Se a sua Mãezinha a vê nesse estado não sai do quarto durante uma semana!
Desta vez estava safa, a Ana não diria nada a ninguém era uma querida em tantas outras vezes tinha já sido sua cúmplice, e nunca precisava explicar-lhe nada. Tanto mais que agora se ficasse de castigo já conseguiria olhar o dia da janela. Agora que já tinha sentido a chuva e o vento e tinha até falado com o rio.
4 comentários:
Um texto tão doce, tão rico, tão cheio de mensagens! São tantos os fios por onde lhe pegar!
Estou a imaginar os meninos numa sala de aula a soltarem as asas e a quererem "transpor" a janela para agarrarem os estados de alma desse rio.
Bem haja por esta tão boa partilha.
Mais uma vez cara colega: Um belíssimo texto. Você escreve com uma sensibilidade e ternura deliciosas.Uma doçura como disse a comentadora anterior, e muito bem.
Magnífico.
Depois dos comentários que li está tudo dito.
PARABÉNS, mais uma vez.
a "TUA ESCRITA"..
o "TEU ESTAR"..
FAZEM sonhar..
como de um livro lido..
do NOBEL saído...o EU
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