Sempre que chovia ou fazia frio estava proibida de descer até ao jardim.
Hoje e respeitando a vontade dos adultos da casa limitar-se-ia a ver o mundo da janela. Logo hoje que o Avô não estava em casa, como conseguiria pôr o pé na rua sem ficar de castigo?! E tanto que lhe apetecia sentir o vento no rosto, ouvir a doce canção da chuva…
Pegou no casaco, talvez conseguisse sair sem ninguém dar conta, os adultos estavam sempre muito ocupados nos seus diversos afazeres, ninguém daria pela sua falta!
Adorava embrulhar-se de vento e chuva! Descer até ao rio e ficar ali quietinha… na margem. Acho que tentava ler a alma ao rio. Um dia o Sr. Belmiro, o barqueiro dissera-lhe, que o rio é como as pessoas, tem humores. Às vezes não está para brincadeiras! Podia até ser verdade, mas a única coisa que lhe interessava era o seu estado de alma depois de estar ali. Sereníssima.
De repente lembrou-se que tinha de voltar para casa. Talvez que ficar de castigo fosse já inevitável. Ao entrar em casa deu de caras com a Ana;
-Credo, Menina! Se a sua Mãezinha a vê nesse estado não sai do quarto durante uma semana!
Desta vez estava safa, a Ana não diria nada a ninguém era uma querida em tantas outras vezes tinha já sido sua cúmplice, e nunca precisava explicar-lhe nada. Tanto mais que agora se ficasse de castigo já conseguiria olhar o dia da janela. Agora que já tinha sentido a chuva e o vento e tinha até falado com o rio.