domingo, 28 de fevereiro de 2010

Mastigar os livros!


Já experimentaram mastigar livros?

Pois eu adoro fazê-lo, e asseguro que não tem nada de esquisito!

Gosto de ler as linhas, as entrelinhas, fora das linhas e traçar as minhas próprias linhas. Manias…

Claro que não consigo fazer isto tudo com todos os livros.

Há livros e livros. De alguns, vale só mesmo a pena ler o título, porque de tão insípido e desenxabido conteúdo, o título será o único a fazer-nos sonhar!

Mas depois há os tais livros que gosto de mastigar, aqueles, que de tão deliciosa leitura, gosto de trincar e saborear devagar, devagarinho…

Aqueles em que depois de avançar uma página, volto de novo atrás, pois tal é a beleza e riqueza das linhas e entrelinhas. Livros fascinantes, com os quais consigo não só voar, mas PLANAR!

Aconteceu-me com um dos livros de Mia Couto. Mar me quer.

Todo o livro é um verdadeiro tratado filosófico, as linhas e entrelinhas estão cheias de poesia pura e simplesmente deliciosa!

Leiam, este pedacinho…

(…) “Devia era, logo de manhã, passar um sonho pelo rosto. É isso que impede o tempo e atrasa a ruga. Sabe o que faz? Estende-se aí na areia, oblonga-se deitadinha, estica a alma na diagonal. Depois, fica assim, caladita, rentinha ao chão, até sentir a terra se enamorar de si. Digo-lhe, Dona: quando ficamos calados, igual uma pedra, acabamos por escutar os sotaques da terra. A senhora num certo momento, há-de ouvir um chão marinho, faz conta é um mar sob a pele do chão. Aproveita esse embalo, Dona Luarmina. Eu tiro boas vantagens desses silêncios submarinhos. São eles que me fazem adormecer ainda hoje. Sou criança dele, do mar. (…)

Se decidirem lê-lo e mastigá-lo, como eu , de certeza não se arrependerão.




sábado, 27 de fevereiro de 2010

O MEU AVÔ MIGUEL


Gosto de pensar que o meu MAR é feito de pedacinhos de muitos MARES, de todos os que para mim têm ou tiveram importância.


Como o mar do meu avô Miguel…


Meu avô que tinha fama de ter sido severo com os filhos, mas que se derretia em ternuras com os netos. Meu avô sabia que todas as ternuras do mundo, não são exagero, e todo ele era um mar de ternura.


Adorava contar-me a sua história preferida, a história de amor entre ele e minha avó.Por ter escolhido casar com minha avó, meu avô foi deserdado pelo pai. Algo de que ele não parecia importar-se, costumava dizer ,que felizmente ninguém pode deserdar-nos das nossas memórias. E que essas são as que verdadeiramente importam.


Ele e minha avó viveram uma bela história de amor Que durou 68 anos! Durou, digo eu, pois um dia destes quando o visitei, disse-me , que apesar de minha avó ter partido continua a amá-la como sempre… e grande deve ter sido o amor de quem ama sempre e para sempre!


Para meu avô eu sou a “Teresinha”, a quem ainda hoje gosta de contar histórias…
Quando o visito, e visito-o menos do que devia, tem sempre montes de histórias para me contar… e lembrar…e é tão bom mergulhar no mar de memórias que naveguei com meu avô!


Lembro o pânico de minha avó quando ele resolvia nomear ,um tal senhor de Santa Comba. Meu avô detestava-o ,e eu pensava que esse tal senhor devia ser mesmo má pessoa, pois se nem o meu avô gostava dele!


Lembro, como lhe devo parte da minha paixão pela leitura. Das horas que passamos a ler e a discutir sobre o que liamos, ás vezes , nada de acordo um com o outro.


Lembro os nossos passeios ,pelas vinhas, onde tentava ensinar-me a enxertar uma videira, mas o que transparecia era o seu amor infímo pelo Douro, pelo seus cheiros pelas suas cores.


Ou dos passeios pela planície Alentejana quando costumava visitar-nos.
E ainda dos passeios á beira mar….


Passeios que costumavam durar horas, onde me contava histórias de sereias e onde eu gostava de sonhar-me uma delas!


Hoje no pensamento, no coração, visitei-o. Meu avô faz 97 anos, ficou feliz por me ver, e eu feliz por poder ouvir mais uma história…

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A MINHA PROFISSÃO...

É A MELHOR DO MUNDO!!




A minha profissão é a melhor do mundo!


Dirão vocês que a vossa também, se gostarem daquilo que fazem.


Estou disposta a provar que ser Educadora de Infância é um privilégio igual a nenhum outro, senão vejamos:

Qual de vocês consegue fazer 25 amigos no início de cada ano lectivo?

Qual de vocês recebe presentes diários, alguns cheios de imaginação e por vezes até algo insólitos, como uma pedrinha que se apanhou pelo caminho, uma erva daninha que se leva do jardim e se oferece à Educadora como se de um tesouro se tratasse, e como tal, não tens coragem de a deitar ao lixo!


Qual de vocês descobriu que o sol tem… “migalhas”!?


Que na paleta de cores o cinzento é “preto claro”!?


Que as flores também “desmaiam”!?


Que nem todas as princesas são bonitas, que há bruxas boas, que o vento é o “ar que mexe e dá estaladinhas na cara”, que se estamos mal dispostos é porque dormimos com os olhos abertos!?


Em qual das vossas profissões é permitida uma guerra de almofadas?


Imitar uma minhoca, uma tartaruga, uma luta de gatos?


Na minha profissão, no mesmo dia, vivemos num castelo, vamos á lua, somos pintores, poetas, cantores, acrobatas, cientistas, piratas, maquinistas, viajamos por todo o planeta sem sair da sala!


Vamos ao circo, ao cinema, ao zoo, ou brincamos aos Pais e às Mães e até conseguimos que os Pais vão ao Jardim para brincar connosco!


Jogamos á bola e num ápice somos o Ronaldo, o Lisandro!


Na minha profissão, “O Sonho Comanda a Vida”, mas ensinamos que nem tudo na vida é um sonho! Por vezes ficamos tristes e choramos sem vergonha, mas também sabemos chorar de alegria!


Rimos muito, divertimo-nos…Somos Felizes! Se ainda duvidam dos meus argumentos, talvez acreditem agora!


A minha profissão é a única onde além do ordenado, ainda me pagam com sorrisos rasgados, abraços apertados e beijos repenicados! Quem nunca passou pelo Jardim de Infância, não sabe o que perdeu!


Ah! Se quiserem entrar no meu…ESTÃO CONVIDADOS!

sábado, 20 de fevereiro de 2010

A fada THUMBELINA!

Ainda a propósito de fadas, e porque hoje é o aniversário de uma grande amiga minha.
Apetece-me oferecer-lhe um pedacinho de um dos filmes mais ternurentos que se fizeram sobre fadas.

Baseado no conto de Hans Christian Andersen, A Polegarzinha . Os estúdios da Disney criam uma história de fadas maravilhosa, que curiosamente é pouco conhecida.

Porque acredito em fadas e em tudo o que de bom trazem à minha vida!



terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A MAGIA DAS FADAS

(Ilustração de Raquel Pinheiro, As Fadas, Antero de Quental, Edições Vega)


Não sei explicar o meu fascínio por tudo o que tem asas.


Quando era menina, adorava as maravilhosas histórias contadas pela minha avó Emília, histórias de princesas, de bruxas, mas as minhas preferidas eram sem dúvida as de fadas.


A avó usava até uma expressão que eu adorava, ela dizia com frequência, “Deus te fade meu amor.” E eu acreditava que a minha avó era mesmo uma fada boa. Uma fada sempre disposta a ajudar todos os que dela precisassem.


De todas as histórias, havia a da fada que para conseguir as asas que todas as fadas sonham ter, teria de ser boa, alegre, justa, e sábia.


Em suma, a fada perfeita. Mas a fadinha irritava-se com facilidade, e por isso ainda não tinha conquistado as tão almejadas asas. A avó dizia-me, que era uma questão de tempo, até as fadas tinham de aprender a ter paciência…


E eu sonhava… Sonhava, que era uma fada boa a espalhar, sorrisos, abraços, ternuras, e muito pó de fada, que é o que eu acho que todas as fadas devem espalhar!


E por falar em fadas...lembrei-me de um livro maravilhoso de um não menos maravilhoso escritor ,Antero de Quental e as suas "As Fadas", que ilustrado por Raquel Pinheiro é levado a uma obra de arte para miúdos e graúdos!

As fadas... eu creio nelas!

Umas são moças e belas,


Outras, velhas de pasmar...


Umas vivem nos rochedos,


Outras, pelos arvoredos,

Outras, à beira do mar...


(...)

Quantas vezes,já deitado,

Mas sem sono, inda acordado,

me ponho a considerar

Que condão eu pediria,

Se uma fada, um belo dia,

Me quisesse a mim fadar...



O que seria? um tesoiro?

Um reino? um vestido de oiro?

Ou um leito de marfim?

Ou um palácio encantado,

Com seu lago prateado

E com pavões no Jardim?



Ou podia, se eu quisesse,

Pedir também que me desse

Um condão, para falar

A língua dos passarinhos,

Que conversam nos seus ninhos...

Ou então, saber voar!


Antero de Quental



segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

PODE SER QUE O MAR SE ENTRANHE NELES...

(foto tratada do arquivo da Junta de Freguesia de Vila Chã)

Vila chã é um cantinho de sol e de mar. E o seu lugar mais mágico, a lota dos pescadores.


Apesar das actividades ligadas à pesca artesanal estarem em acelerada via de extinção, os poucos barcos que teimam em resistir ainda se fazem ao mar, mais para fazer o gosto aos seus donos, que sonharam outrora ver os filhos continuar a arte.


Sonhos…


-“Era ver esta praia cheia de barcos e de gente. O mar dava-nos tudo, o sustento, a alegria de viver.” Dizia-me o tio João Cadilho, nos seus 77 anos, enquanto enrolava o cigarro, encostado ao seu, “Pai Herói”.



E ficou ali, a lembrar tempos idos e a contar histórias maravilhosas…


- “Veja os nomes dos nossos barcos. Alguns tiveram mulheres a comandá-los. Não acredita? É verdade. Estes barcos tiveram mulheres arrais. Uma ainda é viva. A tia "Inês da Chula".


- Vá falar com ela, ”inda” está boa de cabeça, vai conta-lhe as histórias que tanto gosta. A si e aos meninos, pode ser que o mar se entranhe neles, quem sabe…



Com muita pena minha e dos meninos, tivemos que nos despedir.


- Talvez queira fazer-se ao mar um dia destes? Se não tiver medo, posso levá-la. Um dia que o mar esteja sereno.



Pois, se bem me conheço… Irei!

"PODE SER QUE O MAR SE ENTRANHE NELES..."