(…)
Contavam-lhes que o
povo daquele país tivera um dia um imenso e belo tesouro e que alguém lho
roubara. E que era um tesouro tão grande e tão valioso que, sem ele, não podiam
ser felizes.
- Um tesouro? –
perguntavam os visitantes muito surpreendidos.
- Sim, um tesouro… A
Liberdade.
(…)
Então explicavam-lhes:
naquele país as pessoas não podiam fazer o que queriam, nem podiam dizer o que
pensavam ou o que sentiam, nem, como eles, partir e visitar outros países e
conhecer outros povos, viviam fechadas no seu país como se ele fosse uma
prisão. Nem sequer podiam contar um segredo a ninguém, porque seriam presas, ou
até mortas.
- Mas isso deve ser
uma grande infelicidade! – diziam os visitantes.
- Não admira que vocês
estejam sempre tão tristes!
(…)
Até que um dia chegou
em que, no País das Pessoas Tristes, as pessoas decidiram reconquistar o seu
tesouro. Os soldados reuniram-se nos quartéis e pegaram nas suas armas para
arrancar finalmente o tesouro das mãos dos ladrões. E toda a gente saiu
alvoraçadamente para a rua e acompanhou os soldados, cantando e gritando: “
Viva a liberdade! Viva a liberdade! “
Os corações exultaram
de alegria e as janelas encheram-se de bandeiras e cravos vermelhos: os
soldados puseram cravos vermelhos nas espingardas… (…)
Todo o país se
transformou numa grande festa, ruidosa e transbordante…
(…)
Esse país agora já não
se chama País das Pessoas Tristes, chama-se Portugal e é o teu país. E o
tesouro pertence-te a ti, és tu agora que tens de cuidar dele, guarda-o muito
bem no fundo do teu coração para que ninguém to roube outra vez.
Porque esta história
não é uma história inventada. É uma história verdadeira, aconteceu mesmo.
O TESOURO, Manuel António Pina
" Nós a dançar o 25 de abril " - Desenhos e Título, Isabel Rio
1 comentário:
Não matem os cravos
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