Sempre que estava em
casa, o Avô morava no quintal.
Talvez o quintal fosse
um lugar inventado pelo Avô para viver melhor, pois sempre que o encontrava por
lá parecia tão feliz…
Os abraços do Avô cheiravam
a terra molhada, misturada com salsa, erva cidreira e hortelã mourisca. Coisas
de quem fica por ali a embalar as plantas…
Ela adorava quando o Avô
lhe falava dos segredos e silêncios da horta.
Aprendera que as plantas
crescem devagar e em silêncio, que no quintal do Avô os melhores morangos eram
os tocados de lagartas. Lagartas que também vestiam as couves de rendas e
depois se divertiam a trepar às árvores de fruto para se esconderem numa
qualquer maçã ou pera…
O Avô ensinara-lhe
todos os nomes das plantas e dos frutos da horta e a ler neles as estações.
Mas não sabia que
chuva inesperada de memórias, lhe tinha feito lembrar o dia, em que depois de
ajudar o Avô a regar a horta, este se sentou no cantinho do costume e tirou do
bolso o caderno onde escrevia histórias e canções. Mas ao contrário do que
esperava, o Avô não escreveu nada no caderno. Rasgou sim, duas folhas com que
fez dois barquinhos.
Dois barquinhos cheios
de sonhos, que puseram a navegar no canteiro das alfaces enquanto a terra não
engolia a água.
O Avô tinha destas
coisas…
Sonhos que navegavam a
todo o vapor no canteiro das alfaces!
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