quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Ilhas que vivem dentro de nós


Dona Regina era mesmo uma pessoa difícil de entender!

Raramente sorria, a ternura parecia não morar dentro dela e quando se lhe metia uma coisa na cabeça… Aí é que não havia mesmo nada a fazer. Não aceitava qualquer tipo de argumento contrário ao seu, tudo tinha de ser como ela dizia. Ai de quem se atrevesse a contraria-la a fazer perguntas que não estavam nas soluções do seu livro de professora… Era certo e sabido que copiaria uma centena de vezes a definição por ela aventada para que ficasse bem encaixada, parafraseando a própria!

Lembra o dia em que Dona Regina mandou abrir o livro de geografia e lhe pediu que lesse a definição de ilha. Antes que tivesse tido tempo de começar a desagradável senhora disse ainda em tom ríspido:

- Leia alto, clara e pausadamente para que todos consigam perceber sem que tenha de me esforçar muito!

“- Ilha, porção de terra rodeada de água por todos os lados, onde só é possível chegar por ar ou de barco.” Ainda mal tinha acabado de pronunciar a palavra barco e já Dona Regina argumentava:

- Ora aqui está a forma como quero que me definam ilha cada vez que eu pergunte! Alguém tem dúvidas?

Claro que ninguém se atrevia a fazer perguntas. Todos conheciam o génio de Dona Regina e os seus castigos eram já famosos em toda a escola, ninguém queria levar para casa toneladas de coisas inúteis para fazer e muito menos ficar sem pôr os pés no recreio durante semanas!

Ela própria já tinha experimentado a ira de Dona Regina quando numa composição sobre as férias afirmara que os trabalhos de casa marcados pela professora tinham sido a parte menos boa das mesmas. Se ao menos a sua Professora continuasse a ser Dona Laura…

Dona Laura nunca começaria a lição com uma definição. Aliás aprendera com ela que,” uma coisa nunca é, mas está sempre a ser!” Porque na definição de qualquer coisa conta o que eu penso dela, o que eu vejo nela e o que eu consigo imaginar…

Certamente Dona Laura pediria que imaginássemos uma ilha, a nossa ilha, que poderia nem ter terra nenhuma nem mar nem rio…

Um dia o Avô Miguel lera-lhe um livro que falava das ilhas que temos dentro de nós, aquelas que não vêem em nenhum mapa que só nós conhecemos porque um dia ousamos imagina-las. Ilhas que só vivem dentro de nós ou nós dentro delas. Ilhas que fazem parte do nosso infinito pessoal e intransmissível…

Ainda bem que Dona Laura e o Avô Miguel nunca lhe ensinaram nenhuma definição de ilha. Se tal tivesse acontecido nunca descobriria dentro de si ilhas que às vezes nem sonhava existirem!

3 comentários:

xn disse...

Olá minha querida, espera que estejas bem! Neste momento estou a imaginar-te numa linda ilha, mas muito especial... Uma ilha cheia de histórias para contar... e tu rodeada de nativos, encantas!!! Encantas com esse teu poder de dar magia às palavras e de tornar ainda mais especiais esses teus lindos momentos!!!!
Bjinhos grandes cheios de esperança de te ter por mais um ano!

xn disse...

Ah! Apenas para dizer que também te imagino a subir a um coqueiro...

Teresa disse...

Olá querida Amiga,

Que bom saber de ti!

Eu estou bem, obrigada. E pelo que vejo tu também.

Deixa-me só dizer-te que a ilha em que me encontro não tem nada de exótico mas que é muito misteriosa!

Tem o mistério dos silêncios que aprecio e o andar lento do tempo que por gostar da minha ilha resolve demorar-se por cá.

Os nativos são poucos, uns vinte ou trinta contando já comigo e aqui os coqueiros foram substituídos por pinheiros alguns plátanos e mais umas quantas oliveiras, figueiras, videiras…

O mais exótico desta ilha talvez seja mesmo a temperatura, está calor!

Se quiseres aportar na minha ilha tens de rumar rio acima, mas devo advertir-te que é uma ilha quase deserta onde o servidor da Net quase nunca funciona e a rede de telemóvel tem imensa vontade própria. O que não deixa de ser engraçado, sobretudo se não moras aqui o resto do ano.

Mas o mais fascinante desta ilha é a sua sala de estar. Durante o dia é demasiado quente, mas à noite o tecto de estrelas e a luz da lua conferem-lhe uma beleza impar e todas as noites há concertos de grilos e ralos que se misturam com as conversas e risos dos poucos nativos que frequentam a sala!

Se preferires um concerto orquestrado por rãs basta descer até às margens do rio! Aparece!