Era raro o dia em que não acordasse com os passinhos de dança que as
gaivotas e lavandiscas ensaiavam no telhado.
À tardinha faziam ninho por entre
as telhas e ali ficavam dormindo com embalos de mar. Bem cedinho, tanto, que o
próprio dia ainda esfregava os olhos meio estremunhado, iniciavam um bailado
sobre telhas que se estendia ao céu e terminava sobre o azul do mar.
Saltava então da cama e correndo para a janela empurrava com força as
portadas que impediam a noite de entrar se fosse esse o seu desejo. Agora,
queria o mar. O mar que começava ali mesmo na sua janela, o mar que também lhe
embalava o sono e os sonhos.
Não tardaria e a janela seria a porta que atravessaria para sentir o
azul afagar-lhe os pés.
Na beirada, descansavam conchas engalanadas de limos, estrelas de mar
enfeitavam os novelos de algas que pacientemente as ondas dobaram durante a
noite.
Ficaria ali perdida entre coisas pequeninas, para voltar a entrar pela
janela como quem chega do mar.