terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

AURORA ROSA-ALPERCE


Levantara-se de madrugada para ver nascer o sol.

Às vezes ficava sentada no parapeito da janela a ver o sol acordar o mar. O mar ainda a bocejar ainda a abrir a enorme boca de espuma e o sol a ofuscar-lhe os olhos… como que a dizer;

- Acorda dorminhoco! Abre os olhos! Empurra a roupa para trás!

E o mar parecia atender ao pedido. Perfumava-se de algas, vestia a sua alva camisa de espuma, enfeitava-se das conchas mais belas e raras e esticava-se até á praia como que para dizer;

-Bom dia!

A praia estava agora pintada com as cores da aurora. Um céu suave cor de alperce que aos poucos se transformava num belo rosa solene. Finalmente o dia acabara de nascer!

Via ao fundo o banco onde tantas vezes se sentava a esperar o dia…

E pensou;

- Que lindo, Meu Deus!

domingo, 26 de fevereiro de 2012

POEMA PERDIDO NO MAR


Al mar eché un poema
Que llevó con él mis preguntas y mi voz
Como un lento barco se perdió en la espuma

Le pedí que no diera la vuelta
Sin haber visto el altamar
Y en sueños hablar conmigo de lo que vio

Aún si no volviera
Yo sabría si llegó

Viajar la vida entera
Por la calma azul o en tormentas zozobrar
Poco importa el modo si algún puerto espera

Aguardé tanto tiempo el mensaje
Que olvidé volver al mar
Y así yo perdí aquel poema


Grité a los cielos todo mi rencor
Lo hallé por fin, pero escrito en la arena
Como una oración

El mar golpeó en mis venasY libró mi corazón


 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

A PRINCESA ÁRVORE

James Browne


Ana soprava no ferro de engomar. Ensaiava a temperatura do ferro, aplicando-lhe um dedo de cuspo. E ela sentada na cadeira esperava o vestido cheio de folhinhos e rendas.

- Então menina, faça lá uma carinha mais alegre, vai ser a princesa mais bonita que alguém viu por estas bandas!

Princesa, ela não queria ser nenhuma princesa! Porquê que ninguém percebia isso?!

Porque nunca lhe permitiam fantasiar-se como queria? Uma vez sonhou ser pirata, mas logo a mãe argumentou que “as meninas não têm quereres”. Além de não se saberem de histórias de mulheres piratas, não estava na moda! A mãe e a moda ditavam que as meninas deviam fantasiar-se de, fadas, damas antigas, chinesas e princesas! Ah, e aquela fantasia horrorosa de pierrette que fora obrigada a vestir no Carnaval do ano passado!

Pensando bem sempre era melhor vestir-se de princesa…

Ela tinha pedido à mãe que a deixasse vestir de árvore, fez até o esboço da fantasia no seu caderninho. Uma árvore carregadinha de flores amarelas e pássaros!

Mas qual árvore qual quê, teria de vestir-se de princesa!

Estava tão triste que nem conseguia disfarçar as lágrimas enquanto a Maria Antónia, (a costureira que no virar de cada estação ficava lá por casa para criar o guarda roupa de toda a família) lhe provava o vestido.

-Custa-me vê-la assim triste menina. Está tão bonita!

- Acho que sei como acabar com essa cara triste! Talvez eu possa inventar-lhe uma fantasia de, Princesa Árvore! Faço-lhe a árvore que quer na saia do vestido e a coroa é também feita com flores…

Não estava convencida nem tão pouco convertida! Mas a verdade é que conseguia já imaginar-se a Princesa Árvore. Que talvez não estivesse muito na moda mas que a fazia sem dúvida mais feliz!

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

ESCUTAR A PRIMAVERA

Cathydelanssay

A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar sua vida para a primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos subtis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques de rododendros que eram verdes e já estão todos cor-de-rosas, como os palácios de Jeipur. Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais de sua nação. Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores, alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a primavera chega. É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim. Algum dia, talvez, os homens terão a primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu. E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há primavera, esta primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul. Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos: lentamente estão sendo tecidos os manacás roxos e brancos; e a eufórbia se vai tornando pulquérrima, em cada coroa vermelha que desdobra. Os casulos brancos das gardénias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas, para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade. Saudemos a primavera, dona da vida — e efémera.


Cecília Meireles

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

“E A MANHÃ DESABROCHOU A PÁSSAROS” NA BIBLIOTECA

                                                               

                                                                     (...)


Os pássaros conduzem o homem para o azul,
para as águas, para as árvores e para o amor.

Manoel de Barros


 

Sempre que entramos numa biblioteca sabemos que as coisas mais inesperadas podem acontecer.

Mas o que não imaginávamos "era que a manhã desabrochasse a pássaros" dentro da biblioteca da fundação ALORD.

Foi pela mão da ceramista vimaranense, Maria Fernanda Braga que ficamos a conhecer as Cantarinhas das Prendas ou dos Namorados a sua história e tradição.

"A Cantarinha das Prendas ou dos Namorados é moldada em barro vermelho e ornada com motivos arcaicos polvilhados de mica branca. A Cantarinha Maior significa a abundância que se deseja ao futuro casal. A Cantarinha Menor, aquela que há-de encher a maior, despida de enfeites, significa as dificuldades da vida em comum. Quando um rapaz se dispunha a fazer o pedido oficial de casamento, primeiro oferecia à namorada uma Cantarinha das Prendas. Se esta era aceite, estava formalizado o pedido particular, dependendo apenas da vontade dos pais anunciar-se o noivado. Uma vez dado o seu consentimento e tendo estes chegado a um acordo quanto ao dote, a Cantarinha servia então para guardar as prendas que o noivo e os pais da noiva ofereciam: cordões, tranceletes, corações, cruzes, borboletas, estrelas, arrecadas, relicários e outros objectos em ouro."

Claro que depois de ouvir a história das Cantarinhas é fácil concluir que quando a rapariga não estava interessada no pretendente, partia a Cantarinha! Digo eu! Que me lembrei da canção e do facto de serem as famílias a combinar um casamento onde os principais interessados não metiam prego nem estopa! E o dote, sempre o dote a decidir o amor.

Mas a verdade é que as Cantarinhas são peças de uma beleza rara e esta foi feita pelas mãos mágicas da Fernanda.

 
Já repararam que a Cantarinha tem na tampa um pássaro?! E foi esse pássaro também presente nos bordados de Guimarães que a Fernanda fez voar das suas mãos para as nossas!

E Eis," como a manhã desabrochou a pássaros" na biblioteca.

Agradecemos à Rosário e à Fátima, as bibliotecárias a amabilidade com que sempre nos recebem e para a Fernanda um beijinho muito especial pela ternura e partilha e a promessa de voltarmos a ver-nos desta vez na nossa escola!

Deixo aqui o endereço do sítio da Fernanda para que possam ir visitá-la.

 www.mariafernandabraga.com

E claro as fotos" dos pássaros "...





terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

"QUEM SABE A CANÇÃO DO AMOR?"


Meninos da voz de estrela
Vamos cantar a canção
Atirá-la da janela
Parti-la no meio do chão.

No chão das pedras de pedra.
No chão dos passos perdidos.
Vamos cantar a canção
Meninos todos, unidos!

Nas mãos são uma flor
E a voz, um pássaro leve
Quem sabe a canção do amor?
Quem sabe que a vida é breve?

Meninos tristes, descalços,
Vamos cantar a canção
Atirá-la da janela!
Soltá-la do coração!

Maria Rosa Colaço

 
“Versos Diversos Para Meninos Travessos”


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

HISTÓRIA PARA CONTAR QUE OS MENINOS RESOLVERAM MUDAR

Raquel

A história que eu tinha para contar, era sobre um reino onde havia um príncipe que procurava uma princesa diferente. Segundo este a princesa teria de,”ser mais bela que as estrelas que vestem a noite, mais doce que a água que murmura nas fontes da Andaluzia e mais terna que a brisa que sopra nas serras de Portugal.” Posso já adiantar que o pobre do príncipe não teve a tarefa nada facilitada, pois só lhe apareciam princesas pouco interessantes e muito interesseiras! Mas sua alteza real era persistente e consistente na sua procura e apesar de todos lhe dizerem que a dita princesa, a sua, não existia, não desistiu de procurá-la e claro está acabou por encontrá-la e consta que viveram felizes para sempre!

Se querem saber pormenores podem lê-la na íntegra no livro, “Histórias para contar em Noites de Luar” do escritor, José Fanha.

Porque a história que vou contar agora é um bocadinho diferente da imaginada pelo autor do livro. Só porque os meninos resolveram mudá-la.

Quando pedi que fizessem o registo da história para que depois cada um a lesse ao grupo, o Rodrigo fez a pergunta que mudaria toda a história:

-Onde está o cavalo do príncipe?

Ninguém se lembrava de ter ouvido falar do cavalo do príncipe em nenhuma parte da história. Eu própria confesso que reli a história à procura do cavalo…

E não, a história não falava que o príncipe ia a cavalo. Mas os meninos decidiram que sim. É que para eles príncipe que é príncipe tem de ter um cavalo. Sem ele nunca conseguiria salvar a princesa, que é verdade não estava em apuros mas passou a estar. Não fosse ter entrado também na história um gigante que se apaixonou por ela e a aprisionou nas masmorras do castelo…

E quando tudo levava a crer que o príncipe salvaria a princesa e a cavalo rumariam ao castelo deste e viveriam então por muitos e bons anos, felizes…

A Raquel decidiu que desta vez quem estava em apuros era o príncipe e quem o salvaria seria naturalmente a princesa! Os rapazes diziam que não! As princesas não sabem lutar, nem têm roupa de luta?! Mas a Bruna foi adiantando que," já há príncipes que sabem cozinhar e varrer e princesas que estão no computador"! Mas se os argumentos das meninas não convenciam os rapazes estas não se davam por vencidas.

O Pedro propôs que votassem como fazem para escolher os chefes da semana (dois meninos eleitos por todos e que na semana em que são eleitos têm de assegurar o bom funcionamento da sala), esquecendo-se que as meninas estão em maior número e como aqui na sala a democracia ainda é o que era, quem é salvo é o príncipe, mas o importante é que tal como na história de onde saiu esta história, também viveram felizes para sempre!

Miguel